SEM PERDÃO

Publicado em Sem categoria

Nada pode ser mais desastroso para o governo neste momento, em que o país mergulha na recessão e a inflação atinge níveis assustadores, do que os protestos de caminhoneiros, que estão parando importantes regiões produtoras e levando ao desabastecimento de itens básicos, como alimentos e combustíveis. Integrantes da equipe econômica reconhecem, porém, que o Palácio do Planalto tem parcela importante de culpa pelas manifestações.

Um dos principais motivos da ira dos profissionais é a recente alta do preço do óleo diesel. Com o valor do barril do petróleo despencando no exterior, era natural que o combustível barateasse no Brasil, como ocorre em todo o planeta. O problema é que, nos últimos anos, o governo segurou os reajustes quando o petróleo estava cotado acima de US$ 100, para conter a inflação. Essa distorção destruiu o caixa da Petrobras. Agora, o Planalto tenta corrigir as barbaridades do passado.

Contudo, num país em que 70% das cargas são transportadas por rodovias, fica difícil explicar que essa é a fatura a ser arcada pelos caminhoneiros. “Não foi uma ‘escorregadinha’, como costuma dizer o ministro Joaquim Levy (da Fazenda)”, admite um assessor palaciano. Ele ressalta que o mesmo problema se deu nos pedágios, cujos valores deixaram de ser reajustados em 2013, por causa das manifestações que tomaram as ruas, inclusive de caminhoneiros. “Estava tudo errado”, emenda.

Na avaliação de especialistas, ainda não é possível medir o impacto dos protestos nas estradas, tanto na inflação quanto no Produto Interno Bruto (PIB). Mas ressaltam que não faltam motivos para o estado de pavor que tomou conta dos agentes econômicos. Para muitos, o país está à beira do caos, fruto da sucessão de erros cometidos pela presidente Dilma Rousseff no primeiro mandato.

As projeções apontam que a inflação oficial deste mês deve fechar entre 1,10% e 1,16%, elevando a taxa acumulada em 12 meses para até 7,64%. Em março, não será diferente, e o índice em 12 meses encostará em 8%. O PIB do quatro trimestre de 2014, que será divulgado no fim de março, pode ter caído ao menos 0,5%, com a retração se aprofundando entre janeiro e março deste ano.

“A cada semana, as estimativas pioram. Primeiro, falava-se em inflação acumulada de 6,5% em 2015, com o PIB subindo até 0,5%. Depois, passou-se a cogitar carestia de 7% e queda de 0,5% do Produto. Agora, já se projeta inflação de 8% e contração de mais de 1% do PIB”, diz um técnico da Fazenda. Ele lembra que o resultado dessa combinação perversa será o aumento do desemprego.

As perspectivas são de que a taxa de desocupação nas seis principais regiões metropolitanas do país tenha atingido 5% em janeiro. O número oficial, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sairá amanhã. O Ministério do Trabalho deve divulgar ainda nesta semana que o país registrou saldo negativo de pelo menos 20 mil vagas no mês passado.

O temor do Planalto é de que, com o desemprego dando as caras, as manifestações dos caminhoneiros sejam o estopim de um movimento de trabalhadores contra o governo. Há muitas categorias organizadas, como a de metalúrgicos, prontas para tomar as ruas. Aliados próximos da presidente Dilma não descartam a possibilidade de ela enfrentar constrangimentos em aparições públicas, jogando por terra a estratégia de recuperar a popularidade. Hoje, por sinal, a petista poderá sentir como anda a pulsação dos eleitores em evento marcado para Feira de Santana, na Bahia, onde entregará empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida.

O importante é o pós-Copom

» Os investidores já nem se perguntam mais qual será o aumento da taxa básica de juros (Selic) na reunião de março do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Com o consenso em torno da elevação de 0,5 ponto percentual, de 12,25% para 12,75% ao ano, o grande questionamento é sobre o comunicado pós-decisão.

Quando abril chegar

» A grande dúvida do mercado é se o Banco Central dará algum sinal de que poderá esticar o processo de arrocho monetário além de abril, quando se espera que a Selic suba para 13% e permaneça nesse nível até o fim do ano. Entre as duas próximas reuniões do Copom, o governo já terá em mãos números comprovando a recessão econômica.

A gula do PMDB

» A gula do PMDB pelo comando do Banco do Nordeste (BNB) se agigantou nos últimos dois dias, diante dos afagos do Planalto no partido. Pelo menos seis integrantes da legenda, demitidos por irregularidades pelo atual presidente da instituição, Nelson Antonio Souza, estão ávidos para retomar as boquinhas. No que depender do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, os políticos ficarão bem longe dos bancos federais.

Bacalhau sem dólar

» A rede Pão de Açúcar importou mais de 4 mil toneladas de bacalhau para essa Páscoa. Como foi negociado no início do ano passado, diretamente com fornecedores de Portugal e Noruega, o produto não estampará nas gôndolas a recente valorização do dólar.

Brasília, 00h01min