» ANTONIO TEMÓTEO
A presidente Dilma Rousseff deixará o Palácio do Planalto entregando ao país um Produto Interno Bruto (PIB) menor do que o existente quando ela foi reeleita. Projeções do Itaú Unibanco indicam que a taxa média de variação da economia no segundo mandato de Dilma será negativa: -0,3%. Para chegar a esse número, o banco estimou uma retração de 2,3% em 2015, uma recessão de 1% em 2016, um tímido crescimento de 0,4% em 2017 e uma expansão da economia de 1,7% em 2018. Se confirmado, será o pior resultado desde o governo Collor, quando o PIB teve queda média anual de 1,65%. Especialistas avaliam que essas estimativas podem piorar com o agravamento das crises política e econômica, além dos riscos externos relacionados ao dólar e à desaceleração da China.
Os números mais recentes confirmam o cenário desolador. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado ontem, uma espécie de prévia do PIB, apontou um recuo de 1,89% no segundo trimestre. Esse é o terceiro período trimestral consecutivo de queda do indicador, o que configura recessão. O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, explicou que o enfraquecimento da economia é resultado de uma combinação perversa da piora das contas públicas, que provocou o aumento do risco país, e redução do financiamento externo.
A redução do ingresso de recursos estrangeiros, explicou, implica queda de investimentos e desvalorização do real frente ao dólar, o que pressiona a inflação, reduz a renda dos trabalhadores e leva o BC a aumentar os juros para conter a carestia. Goldfajn alertou que as dificuldades políticas e econômicas enfrentadas pelo governo para executar o ajuste fiscal reduzem a possibilidade de crescimento a curto prazo. “Está claro que as condições atuais não são as ideais. Política econômica é a arte do possível. A questão central é se o governo será capaz de implementar o ajuste”, comentou.
Segundo o economista, além dos problemas domésticos, o país está exposto a riscos internacionais que podem agravar ainda mais a crise. Entre eles, Goldfajn listou a possibilidade de desaceleração mais forte do que a esperada da economia chinesa, de alta de juros dos Estados Unidos mais intensa do que a prevista e do rebaixamento da nota de crédito do Brasil em função da alta da dívida do setor público. “O próprio discurso do BC sinaliza que uma alta mais forte do dólar pode levar a um aumento dos juros. Isso teria reflexo negativo sobre a atividade econômica”, observou.
Década perdida
Na opinião do economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, Dilma entregará o país para o próximo presidente em uma situação econômica pior do que quando recebeu o cargo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nas contas dele, entre 2015 e 2018, o PIB terá vai encolher a uma taxa média de 0,2% a cada ano. Com isso, o país vai lamentar mais uma década perdida, assim como anos anos 1980.
Para Camargo, os desequilíbrios que resultaram na disparada da inflação e na deterioração fiscal começaram no segundo mandato de Lula, quando o Executivo passou a interferir no mercado e deixou de fazer superavits primários adequado para evitar o crescimento da dívida pública. Dilma continuou com a mesma política e ainda tentou diminuir os juros na marra, o que fez a inflação subir. Além disso, o governo tentou limitar taxas de retorno de concessões de infraestrutura e represou preços de energia elétrica e de combustíveis, desorganizando esses dois setores da economia. “Houve um conjunto de erros micro e macroeconômicos e as consequências apareceram agora”, disse.
Camargo explicou que o país só voltará a crescer com a execução do ajuste fiscal, mas esse processo será longo, doloroso e requer um compromisso forte da equipe econômica. Ele tem dúvida, porém, se a correção de rumos sairá do papel. “O fato de Banco do Brasil e Caixa anunciarem linhas especiais de crédito para o setor automotivo e sinalizarem que estenderão esses financiamentos para outros segmentos são uma clara sinalização de que a política econômica do primeiro mandato está de volta. O cenário se torna cada vez mais preocupante e a situação pode piorar ainda mais”, afirmou.
Para o economista-chefe da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira, na melhor das hipóteses, a média de desempenho do PIB entre 2015 e 2018 será zero. Ele ponderou que a retomada do crescimento passa pela disposição do setor privado em investir, o que não existe neste momento. De acordo com ele, os sucessivos erros dos últimos anos minaram a confiança do setor privado. “A percepção de risco em relação ao Brasil cresceu bastante nos últimos dois anos, e o processo eleitoral agravou esse cenário. Muitas decisões equivocadas foram tomadas no passado e isso se reflete em menor geração de riquezas”, comentou.
Brasília. 10h10min