ROSANA HESSEL
As exportações brasileiras vão registrar, em 2017, o primeiro crescimento depois de cinco anos de quedas consecutivas, conforme os dados revisados da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A entidade elevou de US$ 51 bilhões para US$ 63,2 bilhões a previsão de superavit da balança comercial deste ano, um recorde histórico. Entretanto, o presidente da AEB, José Augusto de Castro, avisou que esse resultado inédito pode ser comemorado, mas com cautela e ressalvas.
“O saldo é expressivo e o maior da história. O governo vai bater bumbo com esse número, mas é preciso lembrar que as exportações ainda não se recuperaram totalmente”, pondera Castro. As novas estimativas preveem alta de 12,8% nos embarques deste ano na comparação com 2016, para US$ 209 bilhões. O especialista destaca que essa alta não anula a queda acumulada de 27,7% nas exportações durante os últimos cinco anos. “Ainda não há uma recuperação total das exportações. O volume exportado é menor que os US$ 242 bilhões de 2013 e os US$ 225 bilhões de 2014”, completa ele, lamentando o fato de a corrente de comércio, de US$ 354,8 bilhões, voltar aos patamares de 2010. Pelas contas da AEB, as importações devem avançar 6%, para US$ 145,8 bilhões este ano.
O presidente da AEB lembra que a recuperação da Argentina, cujo Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer 3%, é um dos fatores que contribuíram para a expansão das exportações brasileiras, pois o país vizinho será o destino de 25% das vendas nacionais. “A Argentina será responsável por 50% do crescimento previsto de 6,7% nas exportações de manufaturados e os EUA, por 13%”, afirma. Ele destaca que as exportações de manufaturados devem crescer 6,8%, para US$ 78,9 bilhões, volume comparável ao registrado em 2003. “O país está perdendo mercado há muito tempo, e isso deverá continuar acontecendo, principalmente, nos países vizinhos, devido à falta de competitividade”, lamenta.
Críticas da OMC
Para Castro, o bom desempenho das exportações neste ano não deve se repetir em 2018, pois o país não é competitivo, e é possível até elas voltarem a cair. Ele lembrou que, nesta semana, até a Organização Mundial do Comércio (OMC) criticou a baixa competitividade do Brasil por ser muito protecionista. A entidade, que é comandada pelo embaixador brasileiro Roberto Azevedo, não poupou críticas ao país em seu relatório divulgado na segunda-feira, 17, e ainda destacou que a indústria nacional é altamente dependente de incentivos.
No entender do presidente da AEB, a perda de competitividade do Brasil é resultado do fato de a indústria nacional, em grande parte, não estar inserida nas grandes cadeias globais de valor, que estão na Europa e nos EUA. “O Brasil está atravessando um processo de isolamento comercial. E, nos próximos anos, ainda terá que competir com as commodities dos Estados Unidos nos mercados asiáticos, principalmente, na China”, alerta. “O Brasil até seria mais competitivo se não exportasse tanto imposto na manufatura. O peso dos tributos cobrados em cascata e da logística ineficiente das estradas e portos (o famoso Custo Brasil) gira em torno de 25% a 30%. É impossível competir com isso”, explica.
Castro lembra ainda que 45% das exportações dos produtos manufaturados têm como destino países da América Latina que não pertencem às cadeias globais, e, portanto, são mercados que podem ser perdidos a qualquer momento se o câmbio não for favorável. Fontes do governo reconhecem que país é pouco competitivo, mas destacam que, além de preço elevado, os produtos nacionais precisam melhorar a qualidade.