ROSANA HESSEL
Apesar de o presidente Jair Bolsonaro (PL) evitar fazer críticas ao presidente russo Vladimir Putin e se irritar quando é questionado sobre o derramamento de sangue da guerra na Ucrânia deflagrada pela Rússia, o chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos do Ministério pasta, Adolfo Sachsida, negou sinais trocados entre a diplomacia brasileira e o chefe do Executivo.
“Com todo o respeito, eu não vejo sinal trocado. O Brasil foi muito claro por três vezes na ONU (Organização das Nações Unidas). O voto não caiu do céu e foi orientado pelo presidente Jair Bolsonaro”, disse Sachsida, nesta sexta-feira (4/3), em entrevista virtual a jornalistas sobre os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2021, quando cresceu 4,6%, abaixo da previsão da pasta, de 5,1%. Ele tentou separar a diplomacia do país das opiniões pessoais do presidente sobre o ditador russo e o conflito que está abalando os mercados internacionais e disparando os preços das commodities. “Quando o Brasil se posiciona de forma de forma oficial, se posiciona ao lado das democracias ocidentais”, frisou.
O economista comentou sobre o voto do Brasil na ONU, condenando a invasão da Ucrânia pela Rússia, no sentido de dar um sinal de confiança para o capital estrangeiro que quiser vir para o país. “Alguns países se abstiveram e o Brasil foi firme e votou com o mundo ocidental. E isso mostra que a diplomacia brasileira está alinhada com as democracias ocidentais”, disse Sachsida aos jornalistas.
Revisões
Diante do aumento do pessimismo no mercado por conta da guerra na Ucrânia, que fez disparar os preços das commodities e aumentou as apostas de desaceleração global, colocando no radar um cenário de estagflação — o pior dos mundos em teoria econômica, já que não há crescimento da atividade e os preços não param de subir, corroendo a renda das famílias —, Sachsida evitou comentar sobre os impactos da guerra na economia brasileira, mas admitiu que haverá revisões das projeções, como vem ocorrendo no mercado.
O ex-chefe da Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Economia, disse que o órgão deverá anunciar, “dentro de duas semanas”, as novas projeções do Boletim Macrofiscal. “Com muita parcimônia vamos analisar as novas informações e o que existe um cenário internacional diferente. Não temos compromisso com o erro”, disse. Ele ainda firmou que, se for necessário, “a pasta vai aumentar ou diminuir as previsões para o PIB”.
“Estamos 1,8 ponto percentual mais otimistas, patamar muito parecido com o de 2020 e acertamos. Existe um cenário (novo, da guerra) e vamos analisar com muita serenidade”, disse Sachsida, ao comparar a projeção atual do mercado e a da SPE para o PIB deste ano, de 0,3% e de 2,1%, respectivamente.