“Os ruídos em torno do Bolsa Família são crescentes e reconhecemos que isso é um fato. E o governo ainda precisa dar uma mensagem mais forte sobre isso, porque tudo depende de como o governo vai fazer o Bolsa Família e de onde o dinheiro vier”, afirmou o ministro, nesta terça-feira (17/8) em uma videoconferências com investidores estrangeiros organizada pelo Bradesco BBI. Ele citou a PEC dos precatórios “e outras medidas recentes do governo” como ingredientes para a piora na percepção do mercado em torno dos riscos fiscais.
De acordo com Campo Neto, quando faz análise do balanço de riscos, o BC olha para todas as informações dos modelos e considera também a questão fiscal do país, que vem sendo também um motivo de preocupação dos investidores estrangeiros. Logo, segundo o ministro, o governo precisa sinalizar melhor que pretende respeitar as regras fiscais, afim de não prejudicar o trabalho do BC, que precisará elevar os juros cada vez mais para conter as pressões inflacionárias que estão vindo de vários lados, principalmente, nos preços administrados, como a energia. “Se o país não tiver uma disciplina fiscal, em termos de política macroeconômica, será muito difícil para a política monetária ser eficiente”, afirmou.
O presidente do BC demonstrou preocupação crescente com a questão fiscal, que tem pesado no balanço de riscos da autoridade monetária que, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), elevou a taxa básica da economia (Selic) em 1,0 ponto percentual, para 5,25% ao ano, devido ao fato de as pressões inflacionárias não serem temporárias, como inicialmente previsto. O Comitê ainda sinalizou que pretende elevar os juros básicos acima do patamar neutro, atualmente entre 6,5% e 7%, o que vem aumentando as apostas do mercado para uma Selic de 8% até o início de 2022.
O ministro reforçou que a prioridade do Banco Central continua sendo o controle da inflação e, nesse sentido, a autoridade monetária fará o “o que for necessário” ´para cumprir a meta. “Reconhecemos que há muito ruído em torno da questão fiscal, com a crise política e a aproximação das eleições, mas o BC continua olhando para o seu balanço de riscos e fará o que for necessário para cumprir a sua meta”, disse. Ele lembrou que a inflação elevada atrapalha o crescimento, e, por conta disso, as projeções recentes do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 estão sendo revisadas para baixo e estão ficando abaixo de 2%.
De acordo com o presidente do BC, apesar do aumento dos ruídos em torno das incertezas em relação às contas públicas, os números atuais das contas públicas são melhores do que os do ano passado. “O que vemos é um cenário melhor, mas tudo depende de como o governo vai conseguir o s recursos para um programa social maior, como vem prometendo”, disse.
Campos Neto destacou que o processo de recuperação da pandemia está sendo diferente nos vários países e também nos setores da economia. Além disso, reforçou que a alta da inflação está generalizada. Mas, no caso do Brasil, ele reconheceu que os riscos estão maiores do que antes e, para piorar, as novas previsões do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) têm ficado em torno de 7%, acima da média dos países emergentes, em torno de 4% e 5%, e abaixo apenas da previsão para o custo de vida da Ucrânia, de 8,4%.
O teto da meta de inflação deste ano definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 5,25%, não será cumprido porque as projeções atuais do mercado para o IPCA estão em 7,05%, conforme o último boletim Focus, do BC. Logo, a autoridade monetária precisa focar na inflação do ano que vem, cuja meta de 3,5%, tem um teto de 5%, mas algumas estimativas já apontam o IPCA superando 4% devido à inércia dos preços elevados deste ano, que pode ajudar a pressionar a inflação do ano que vem.
Ao avaliar a fala de Campos Neto, o diretor do Departamento de Pesquisas do Bradesco, Fernando Honorato, disse que o ministro destacou o esforço do BC em busca da convergência da inflação para a meta no ano que vem. “Quando a inflação é alta, atrapalha o crescimento”, afirmou. “O ruído fiscal está elevado, mas, na prática o impulso pode ser pequeno; mercado de crédito esta robusto e o BC tem ampla agenda de tecnologia e sustentabilidade”, acrescentou o economista do Bradesco.