Rubem Novaes não vai sossegar enquanto não privatizar o Banco do Brasil

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Apesar de o presidente Jair Bolsonaro deixar claro que este não é o momento para se falar em venda do controle acionário do Banco do Brasil, o presidente da instituição, Rubem Novaes, mostra que não vai sossegar enquanto não privatizar o BB.

Em depoimento nesta segunda-feira (08/06) ao Congresso, durante audiência pública promovida pela Comissão Mista de Acompanhamento das Medidas de Combate à Covid-19, Novaes voltou a falar da transferência do controle acionário do Banco do Brasil para a iniciativa privada.

A meta, afirmou ele, não é entregar o BB para uma instituição estrangeira ou para gigantes brasileiros como Bradesco e Itaú Unibanco. A ideia é vender as ações do Banco do Brasil de forma pulverizada no mercado. Assim, o BB não teria controle de um único grupo. É o que ele chama de “corporation”.

Para que isso aconteça, segundo Novaes, falta muito pouco para o Banco do Brasil ser privatizado, uma vez que 50% das ações da instituição já estão no mercado. Ou seja, se o Tesouro Nacional se desfizer que uma pequena parcela de suas ações, o BB já não terá mais controle estatal. O Banco do Brasil seria uma instituição privada.

No depoimento, Novaes foi enfático: “As pessoas imaginam que o Banco do Brasil seria comprado por um grande banco estrangeiro, ou pelo Itaú ou o Bradesco, por exemplo. Não é nada disso o que está se imaginando. O BB já tem 50% de suas ações em mãos privadas. É só vender mais um pouco e vira uma instituição privada. É só fazer do banco uma corporation com muitos sócios”.

O obstáculo Bolsonaro

As declarações de Novaes chamaram a atenção de integrantes do Palácio do Planalto. Um deles afirmou: “O Novaes não sossega. Ele dorme e acorda pensando na privatização do Banco do Brasil. Ele só precisa se lembrar que há um grande obstáculo no caminho dele: o presidente da República”. Bolsonaro só aceitaria vender o BB em um eventual segundo mandato, mesmo assim, a resistência seria grande, pois o militares não gostam da ideia.

Na avaliação de Novaes, o BB precisa se preparar para novos tempos, que vão chegar muito rápido. Ele lembrou que o setor bancário está passando por uma revolução, que se intensificará em 2021 diante da decisão do Banco Central de implantar o sistema de open banking, que permitirá o compartilhamento de dados dos correntistas.

Para o presidente do BB, o banco será cada vez mais uma empresa de tecnologia que presta serviços e corre riscos bancários. “Mas nós estamos presos às amarras do setor público. É pensando no benefício do banco que falo em privatização”, frisou.

No entender dele, hoje o Banco do Brasil só tem ônus por ser estatal, pois é obrigado a submeter todas as decisões importantes ao Tribunal de Constas da União (TCU) e sequer pode definir sua publicidade, que está submetida à Secretaria de Comunicação da Presidência da República.

Para Novaes, a privatização do Banco do Brasil não é uma questão ideológica. “Nossa política de recursos humanos é travada. Não podemos demitir um mau funcionário, ou premiar um bom funcionário. Não podemos pinçar no mercado uma pessoa para cumprir determinada tarefa, ou dar alguma compensação a algum executivo que está sendo assediado pela concorrência. Perdemos mais de 50 executivos de primeira linha, desde 2019, para o setor privado”, destacou, durante o depoimento.

Brasília, 18h01min

Vicente Nunes