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Ministério da Economia Marcelo Ferreira/CB/D.A Press Ministério da Economia

Risco fiscal faz Tesouro vender títulos com juros cada vez mais altos

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

O Tesouro Nacional continua com dificuldade para rolar a dívida pública com juros baixos, apesar de o ministro da Economia, Paulo Guedes, tentar minimizar as preocupações do mercado sobre os riscos fiscais e rebater as críticas, inclusive, do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

 

Como reflexo do aumento dos riscos fiscais, ao fazer novas emissões no leilão desta quinta-feira (26/11) para financiar o crescente rombo das contas públicas, o Tesouro pagou taxas de juros mais altas do que as que ele contratou na semana passada. Além disso, vem rolando papéis com prazos mais curtos, o que vem preocupando analistas.

 

Conforme o relatório do Tesouro, foram comercializados R$ 37,8 bilhões em títulos nos leilões de hoje. O maior volume foi de prefixados. Ao todo, o órgão vendeu bem mais do que os 12 milhões de LTNs da semana passada, totalizando 32 milhões de títulos com vencimentos em 2021, 2022 e 2024. O valor negociado nesses papeis foi de R$ 30,4 bilhões, sendo que a maior parte, R$ 24,4 bilhões, com vencimento até outubro de 2021.

 

O maior lote foi o de papéis com vencimento no ano que vem, de 25 milhões, no qual o Tesouro pagou taxa de juros anualizada de 3,04%, acima dos 2,12% negociados na semana passada. Os 2,5 milhões de LTNs para 2022, pagaram juros anuais de 4,99%, também acima dos 4,83% contratados na semana anterior. Já os 4,5 milhões de títulos para 2024 foram vendidos com juros de 6,55% ao ano, contra 6,39% fechados na quinta-feira passada.

 

Os títulos prefixados com pagamento de juros semestrais, NTN-F, para 2027 também acabaram sendo negociados com juros acima dos contratos da semana passada os lotes ofertados foram totalmente vendidos.  O Tesouro vendeu 1,5 milhão de papéis pagando juros de 7,44%, acima dos 7,42% da semana passada. Já os 300 mil títulos para 2031 foram negociados com taxa de 8,02% levemente abaixo dos 8,08% da semana passada. Os negócios nesses dois lotes somaram R$ 2,1 bilhões.

 

“No caso das emissões prefixadas, elas estão muito concentradas no curto prazo, para outubro de 2021, e encurtar a dívida mobiliária representa um risco grande para o Tesouro”, alertou o economista Sergio Goldenstein, ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central e analista independente da Ohmresearch.

 

O especialista lembrou que existem R$ 650 bilhões de papéis vencendo até abril e, para o próximo ano, o volume total da dívida que precisará ser paga em 12 meses é de R$ 1,2 trilhão. “A dívida de curto prazo continua a aumentar e isso é uma estratégia arriscada”, emendou.

 

Demanda menor por pos-fixados

 

Os títulos pós-fixados continuam registrando pouca demanda pelo mercado. As ofertas de títulos indexados à Selic, atualmente em 2% ao ano, continuam com baixa procura e o órgão vem sendo obrigado a pagar deságios crescentes, chegando a 0,36% acima da Selic.

 

Do volume de até 500 mil títulos de LFTs leiloados hoje com vencimento em 2022 em 2027, o Tesouro conseguiu vender o lote inteiro, lembrou Goldesntein. “Depois de muito tempo sem conseguir vender todo o lote de LFTs, o leilão saiu integral, o que é uma notícia positiva, mas os deságios ficaram acima da marcação da Anbima e isso pode continuar a pressionar os deságios e gerar um problema para os fundos de renda fixa, principais compradores desse papel”, destacou Goldenstein.

 

O Tesouro vendeu 266,6 mil LFTs para 2022, pagando taxa 0,13% ao ano acima da Selic e 233,4 mil unidades para para 2027, pagando taxa adicional de 0,36% ao ano. O valor total das operações foi de R$ 5,31 bilhões.