RETRATO DA DEVASTAÇÃO

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Quebrar um país requer muito esforço, mas a presidente Dilma Rousseff conseguiu a façanha. Os números que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem revelam uma economia devastada, que ainda está longe de atingir seu pior momento. A queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,8% em 2015, a maior em duas décadas e meia, foi a primeira parcela da herança maldita da petista que o país está desfrutando. Tudo indica que, neste ano, ainda veremos encolhimento próximo de 4%. E não se descarta nova contração em 2017.

 

Desde que tomou posse, em janeiro de 2011, Dilma imbuiu-se da missão de destruir os pilares da estabilidade econômica, construídos com muito sacrifício depois de uma luta de décadas contra a hiperinflação. Cercada por economistas de ideias bastante discutíveis, como Guido Mantega, Nelson Barbosa e Arno Augustin, a presidente acreditou que poderia recorrer a experimentos que já haviam se mostrado desastrosos, como aceitar mais inflação para estimular o crescimento. Conseguiu, porém, com essa visão equivocada, destruir o orçamento das famílias, cujo consumo despencou 4% em 2015.

 

A presidente também acreditou que, abrindo os cofres do Tesouro Nacional e abarrotando o caixa dos bancos públicos, motivaria o setor produtivo a investir. Para isso, não economizou na distribuição de subsídios, sobretudo a companhias eleitas pelo Palácio do Planalto como “campeãs nacionais”. O que se viu, contudo, foi uma onda de desconfiança varrer o país, diante da destruição das contas públicas. Como era de se esperar, enquanto um grupo seleto de empresas aumentou os lucros, a população se viu obrigada a pagar mais impostos para tentar cobrir o deficit fiscal. Os investimentos? Bem, eles estão em queda há três anos. Somente em 2015, recuaram 14,1%.

 

Embalada pelas campanhas do publicitário João Santana, que está preso acusado de corrupção, Dilma prometeu que trabalharia dia e noite para “o Brasil crescer e gerar empregos”. A farsa durou até as urnas confirmarem a reeleição. A partir dali, a economia afundou e o desemprego deu as caras. Apenas em 2015, o índice de desocupação nas seis principais regiões metropolitanas do país quase dobrou: saltou de 4,3% para 6,9%. No Brasil todo, o desemprego atinge 9% da população economicamente ativa e pode rapidamente chegar a 12% se mantido o ritmo de fechamento de vagas observado em janeiro deste — quase 100 mil postos desapareceram.

 

Regado a corrupção

 

Todas as maluquices do governo foram regadas a corrupção. Não bastasse ter se deparado com o desmonte da economia, a população tomou conhecimento da delação do senador Delcídio do Amaral. Na prisão, conforme revelou a revista IstoÉ, ele afirmou que tanto Dilma quanto o ex-presidente Lula tentaram atrapalhar as investigações da Lava-Jato. O petista disse ainda que a presidente da República participou de todos os detalhes da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela Petrobras, que arcou com prejuízos bilionários.

 

Como sempre faz quando está acuado, o governo tentou desqualificar as denúncias. Assegurou que Delcídio estava falando o que não devia porque não teve ajuda para deixar a cadeia. O Planalto sabe, porém, que boa parte do que o senador disse na delação é verdade. Dilma terá que se desdobrar para provar inocência. Quanto à economia, a presidente nada pode fazer. Com a sucessão de equívocos que cometeu, ela não tem mais credibilidade para convencer os agentes econômicos de que tem a receita que o país precisa para voltar a crescer. Muito pelo contrário.

 

Tudo o que o governo vem propondo como medidas pró-crescimento, na verdade, só agrava os problemas da economia. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, adotou o sistema de banda fiscal, que, na prática, institucionaliza a licença para registrar deficits contínuos nas contas pública. Ele apoia a renegociação de dívidas com os estados, que ampliará em mais de R$ 30 bilhões o rombo nas contas federais. E acredita que o incentivo ao endividamento pode reativar o consumo. Tanto que lançou um pacote prevendo R$ 83 bilhões em financiamentos.

 

Em vez de repetir o receituário do passado, Barbosa deveria trabalhar para recuperar a confiança do governo. Não há outro caminho para o país sair do atoleiro no qual o governo o meteu. Mas, pelo que já se viu, é pedir demais para um dos pais da Nova Matriz Econômica, a base de todo o desastre desnudado pelo IBGE. Portanto, o melhor é se acostumar com o ditado popular: nada está tão ruim que não possa piorar.

 

Brasília, 08h30min