Depois de crescer 0,6% no terceiro trimestre de 2019, o PIB encerrou os três meses entre outubro e dezembro com alta de 0,5%, desacelerando levemente na comparação na margem, pois, no trimestre anterior, o PIB tinha avançado 0,6%. E, no acumulado de 2019, o PIB avançou apenas 1,1%, taxa abaixo das revisadas para 2017 e 2018, de 1,3%, anos do governo Michel Temer, e menos da metade das expectativas do mercado e do governo para o avanço do PIB do início do ano, de 2,5%.
Essa perda de tração chama a atenção em um ano em que a guerra comercial entre China e Estados Unidos afetou pouco a economia brasileira e que o governo conseguiu aprovar, aos trancos e barrancos e com o presidente Jair Bolsonaro muitas vezes jogando contra o Congresso, a reforma da Previdência.
Motores fracos
O recuo do PIB no quarto trimestre de 2019 foi puxado pela desaceleração dos dois principais motores do crescimento econômico: consumo das famílias e investimento Na comparação com o trimestre anterior, a taxa de expansão do consumo passou de 0,7% para 0,5%. Esse recuo ocorreu curiosamente em um período que costuma ser favorável para o aumento do consumo devido às festas natalinas. Enquanto isso, os investimentos, que são medidos pelo indicador Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), encolheram. Depois de registrarem alta de 1,3%, entre julho e setembro, registraram queda de 3,3%, entre outubro e dezembro.
Com o cenário adverso no setor externo em virtude da expansão do novo coronavírus, as projeções de crescimento deste ano estão em queda. Logo, as apostas de que o Banco Central deverá continuar cortando a taxa de juros básica (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) aumentam. Para o economista William Jackson, da consultoria britânica Capital Economics, o colegiado deverá reduzir a Selic dos atuais 4,25% para 4% no fim deste mês. Ele contou que o resultado veio em linha com o que a consultoria estava prevendo e ainda fez um alerta para essa desaceleração “mais forte” no último trimestre de 2019.
“Fundamentalmente, o número do quarto trimestre oculta uma desaceleração acentuada no final do trimestre. O indicador de atividade econômica do Banco Central aumentou acentuadamente em termos em outubro, mas contraiu em novembro e dezembro”, alertou Jackson. Ontem, em função da piora das previsões sobre o impacto do novo coronavírus na economia global, a Capital Economics reduziu de 1,5% para 1,3% a expectativa de crescimento do PIB brasileiro em 2020. Ou, seja, na melhor das hipóteses, Bolsonaro entregará um resultado parecido com o do governo Temer.
Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, evitou comentar oficialmente a frustração com o PIB, preferindo mandar sua equipe soltar uma nota que destaca os dados na comparação anual, afirmando que “a economia mantém a trajetória de recuperação da atividade econômica”. Mas, mesmo na base acumulada em quatro trimestres, a taxa de crescimento do investimento desacelera de 3,9%, em 2018, para 2,24%, em 2020. Não à toa, em relação ao PIB, a taxa de investimento ficou em 15,4%, abaixo do ideal para o país ter um crescimento sustentável, ou seja, acima de 25% do PIB. Realmente, o momento é sério e não é para fazer piadas sem graça com bananas como tenta fazer Bolsonaro. E quem ri, está realmente sem noção da realidade.