Secretario de politica economia, Adolfo Sachsida
Secretario de politica economia, Adolfo Sachsida Ana Rayssa/CB/D.A Press Secretario de politica economia, Adolfo Sachsida

“Resultado do PIB é vitória da política econômica”, diz Sachsida

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

A alta de 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi comemorada pelo Ministério da Economia, e, de acordo com o  chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos da pasta, Adolfo Sachsida, foi uma vitória da equipe econômica, apesar dos choques de oferta ocorridos ao longo do ano passado.

 

“Temos que ser claros. Foi uma grande vitória da política econômica. Tivemos quatro choques fortíssimos de oferta e conseguimos. Isso é uma vitória muito grande da política econômica”, afirmou Sachsida, nesta sexta-feira (4/3), em entrevista virtual concedida aos jornalistas para comentar a nota da pasta sobre o resultado do PIB do ano passado. Ele, inclusive, chegou a dizer que a retomada da economia do tombo da pandemia em 2020, de 3,9%, foi em V, como costuma afirmar o ministro da Economia, Paulo Guedes.

 

“Tivemos a retomada em V. Em outras palavras, os dados confirmam o acerto da política adotada pelo governo brasileiro nesse período tão difícil da pandemia”, disse Sachsida. Ao comparar com os países do G7 –´grupo das economias mais industrializadas do planeta — o crescimento PIB brasileiro “só perdeu para o dos Estados Unidos”.

 

Conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB do país avançou 0,5% no quarto trimestre de 2021 e encerrou o ano com crescimento de 4,6%, totalizando R$ 8,7 trilhões. Esse avanço recuperou as perdas de 2020, quando a economia brasileira encolheu 3,9% devido à pandemia. Contudo, “o PIB per capita alcançou R$ 40.688, no ano passado, avanço de 3,9% em relação à queda de 4,6% do ano anterior.

 

O PIB é a soma das riquezas produzidas pelo país. Em 2021, ficou 0,5% acima do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia, mas continua 2,8% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014, de acordo com o IBGE.

 

Otimismo

 

As projeções do Ministério da Economia, contidas no último boletim Macrofiscal da Secretaria de Política Econômica (SPE), de novembro de 2021, apontavam altas de 5,1%, no PIB de 2021, e de 2,1%, no PIB de 2022. Sachsida minimizou o fato de o resultado ter ficado abaixo do esperado e negou que as previsões do ministério sejam otimistas. “A pasta não tem otimismo. Tem realismo”, afirmou, citando novamente os erros das projeções do mercado durante a pandemia, em 2020.   “Estou bem convicto de que as reformas pró-mercado estão dando resultado e os dados mostram isso”, garantiu.

 

Para o ex-chefe da SPE e um dos últimos integrantes da equipe econômica de transição de governo formada em 2018, o investimento privado será o motor do crescimento do PIB neste ano, ao contrário e, com isso, citou a entrada do 5g no país, o programa de concessões e os marcos legais da cabotagem, do saneamento e do gás, como exemplos de medidas que podem ajudar o país a crescer neste ano. “O Brasil é a maior fronteira de concessões do mundo”, afirmou. Ele, inclusive, voltou a defender a privatização dos Correios como forma de atrair mais investidores.

 

Pelos cálculos SPE, o resultado do PIB de 2021 gerou um carregamento estatístico de 0,3% para o ano de 2022. Isso quer dizer que, se as projeções do mercado, cuja mediana está em 0,3%, forem confirmadas, a economia brasileira deverá andar de lado neste ano.

 

Na avaliação do economista, a agenda de reformas do governo está dando resultado, mas ele reconheceu que os impactos da guerra no Leste Europeu na economia brasileira ainda estão sendo estimados e negou que o conflito tenha efeitos positivos para o Brasil. “Conflitos e guerras nunca são benéficos a ninguém”, frisou Sachsida. Contudo, ele disse que, no cenário internacional, “o Brasil é um porto seguro de investimento”.

 

O economista ainda defendeu a consolidação fiscal como ferramenta para atrair os investidores e ajudar na queda do risco país e na taxa de juros futura, e recomendou cuidado para o Congresso na discussão de medidas para conter a alta dos preços nos postos de gasolina. “Se tomarmos medidas que trazem receio à consolidação fiscal, o real se desvaloriza e gera um aumento no preço dos combustíveis”, afirmou.

 

Guerra na Ucrânia

 

O técnico da equipe econômica destacou o fato de o Brasil ter votado contra a invasão da Ucrânia pela Rússia na Organização das Nações Unidas (ONU), no sentido de dar um sinal de confiança para o capital estrangeiro. “Alguns países se abstiveram e o Brasil foi firme e votou com o mundo ocidental. E isso mostra que a diplomacia brasileira está alinhada com as democracias ocidentais”, disse Sachsida.

 

O ex-chefe da SPE destacou a medida que vem sendo cogitada pelo governo para isentar o capital estrangeiro do Imposto de Renda e que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vendeu aos investidores internacionais durante o périplo que ele fez em Nova York nos últimos dias. Ele demonstrou otimismo em relação à manutenção do atual fluxo de entrada de capital estrangeiro, que não era esperado pelo mercado no início deste ano, que ajudou a segurar o dólar frente ao real na atual conjuntura.

 

Os juros dos títulos públicos acima de dois dígitos e o preço dos ativos na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) ainda baratos em dólar estão atraindo os investimentos em portfólio neste início de ano, ou seja, aquele capital que entra e pode sair a qualquer momento do país em caso de turbulências. Contudo, esse fluxo tem ajudado o dólar oscilar na casa de R$ 5, fazendo a divisa até ficar abaixo desse patamar recentemente. Conforme dados da B3, a entrada de capital estrangeiro na Bolsa brasileira é crescente neste ano, e, desde janeiro até o último dia 2, somou R$ 67,6 bilhões.

 

Na nota sobre o PIB, a pasta também destacou que será preciso “monitorar a evolução do cenário internacional em virtude do conflito no Leste Europeu” e defendeu avanços de medidas no Congresso para melhorar o ambiente de negócios.  “Com o cenário internacional adverso, cabe ao Brasil, além dos posicionamentos diplomáticos e humanitários (em três oportunidades já se posicionou na ONU condenando a invasão da Rússia à Ucrânia; ressalta-se ainda que o Brasil emitirá vistos especiais aos refugiados), mostrar que é um porto seguro para os investimentos privados. Para que tal fim, é necessário manter a agenda de reformas, fortalecendo o mercado de capitais e de crédito, por isso é fundamental aprovar o projeto de lei (PL) do Novo Marco de Garantias, a medida provisória (MP) de registros públicos, e o PL de debêntures incentivadas. Seria importante também obter a aprovação legislativa para a privatização dos Correios e realizar a privatização da Eletrobras ainda no primeiro semestre”, completou o documento.

 

Revisões

 

Diante do aumento do pessimismo no mercado por conta da guerra na Ucrânia, que fez disparar os preços das commodities e aumentou as apostas de desaceleração global, colocando no radar um cenário de estagflação — o pior dos mundos em teoria econômica, já que não há crescimento da atividade e os preços não param de subir, corroendo a renda das famílias —, Sachsida evitou comentar sobre os impactos da guerra na economia brasileira, mas admitiu que haverá revisões das projeções, como vem ocorrendo no mercado.

 

O ex-chefe da Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Economia, disse que o órgão deverá anunciar, “dentro de duas semanas”, as novas projeções do Boletim Macrofiscal. “Com muita parcimônia vamos analisar as novas informações e o que existe um cenário internacional diferente. Não temos compromisso com o erro”, disse.  Ele ainda firmou que, se for necessário, “a pasta vai aumentar ou diminuir as previsões para o PIB”.

 

“Estamos 1,8 ponto percentual mais otimistas, patamar muito parecido com o de 2020 e acertamos. Existe um cenário (novo, da guerra) e vamos analisar com muita serenidade”, disse Sachsida, ao comparar a projeção atual do mercado e a da SPE para o PIB deste ano, de 0,3% e de 2,1%, respectivamente.