Pelas estimativas do economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o IPCA de 2022 deverá encerrar o ano que vem com alta entre 6% e 6,5%, ou seja, acima do teto da meta, de 5%. “Não adiantará nada o Copom elevar a taxa Selic em dois ou três pontos percentuais em dezembro. Ele não vai conseguir reduzir a inflação em 2022, porque ela vai ficar acima do teto da meta. Só vai restar ao governo mudar a meta no meio do ano”, afirmou.
De acordo com o ex-diretor do BC, a inflação atual é mais de oferta do que de demanda, e, portanto, a política monetária mais restritiva para o consumo, com juros cada vez mais altos, não ajudará a manter os preços dentro da meta definida pelo CMN. Além disso, vai travar o crescimento econômico, porque restringe o crédito e o consumo, podendo ajudar a colocar o país em uma recessão profunda. “O Banco Central consegue fazer muito pouco elevando a Selic sem que o governo ajude no lado fiscal”, explicou. Pelas estimativas de Gomes, no ano que vem, as quedas no consumo e na produção industrial já estão contratadas, pois a renda está encolhendo e o desemprego continuará elevado, acima de dois dígitos.
Será preciso que o BC utilize outras ferramentas para reduzir a restrição de crédito e estimular o investimento das empresas para criar empregos, mas não vai adiantar nada querer estimular o consumo das famílias oferecendo mais crédito para quem já está muito endividado, na avaliação de Gomes. Com a inflação não dando trégua e o desemprego elevado, as famílias brasileiras estão cada vez mais endividadas. Conforme dados da CNC, o endividamento é recorde neste ano, chegando a 74,6% do rendimento, conforme os dados de setembro.
Alta de preços disseminada
Fabio Romão, economista sênior da LCA Consultores, também reconheceu também que será difícil para o Banco Central conseguir colocar a inflação dentro da meta apenas elevando a taxa Selic, porque além do choque de oferta, outro fator que tem pressionados os preços internos é a insegurança em relação à questão fiscal, que vem pressionando o dólar, que deverá continuar elevado no ano que vem. Os dados do IPCA-15 mostram que a disseminação da inflação aumentou, passando de 63,76% em outubro para 75,20%, o que é preocupante, porque o recuo dos preços fica mais difícil quando há um maior número de produtos pesquisados com valores reajustados para cima.
A meta de inflação deste ano é de 3,75%, com limite máximo de 5,25%, e, pelas novas projeções da LCA, o IPCA, que mede a inflação oficial, deverá encerrar dezembro com alta de 10,2%, ou seja, quase o dobro do teto da meta. “A inflação de 2022 também não deve ficar dentro da meta. Acabamos de revisar as nossas projeções e elevados de 5% para 5,5% a nossa estimativa para o IPCA, apesar de revisarmos para cima a nossa previsão para a taxa Selic”, contou Romão. Segundo ele, a nova previsão da LCA passou de 10,75% para 11,75% ao ano. “Além do câmbio médio mais alto, tem a inércia da inflação que não deve ajudar para o IPCA ficar abaixo do teto da meta”, complementou.
Romão reconheceu que essas previsões para o IPCA de 2022 devem continuar subindo, porque não há um consenso de que a inflação não conseguirá recuar para os patamares abaixo de 6% tão facilmente, e, por conta disso, ele também não descarta a possibilidade de o CMN revisar a meta de inflação. “Esse cenário não está descartado na LCA e vem sendo cogitado há algum tempo”, afirmou.
Credibilidade no chão
O CMN só pode mudar as regras de inflação no mês de junho. Vale lembrar que o governo Jair Bolsonaro (sem partido) está cada vez mais habituado em mudar regras quando elas não conseguem ser cumpridas. E isso vai ficar mais claro se a meta de inflação do ano que vem for alterada, em um claro sinal de que credibilidade está no chão.
Analista um fundo estrangeiro lembrou que, apesar de ter conquistado a autonomia, o Banco Central perdeu a credibilidade no controle da inflação após os erros na condução da política monetária em 2020 e agora não consegue mais corrigir os equívocos que cometeu. Além disso, assim como o ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, está com a imagem bastante arranhada no mercado por também ter investimentos em paraísos fiscais revelados pelo projeto Pandora Papers, do consórcio internacional de jornalistas investigativos.
Aliás, além de não entregar o que prometeu, Guedes abandonou as regras fiscais aceitar a mudança no indexador do teto de gastos na PEC dos Precatórios, que prevê o calote de dívidas judiciais e provocará um efeito danoso para a trajetória da dívida pública. Pelas estimativas do consultor da Câmara, Ricardo Volpe, apresentada nesta semana aos senadores, com a imposição do limite para os precatórios a partir de 2022, a dívida acumulada dessas ações que demoram décadas para serem pagas, poderá chegar a R$ 1 trilhão em 2036, ano em que deve terminar a vigência do teto de gastos, tornando-se impagável.