Os investidores estão se apegando o quanto podem às declarações do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para tentar criar fatos positivos em relação ao Brasil. Debruçados sobre os números do país, boa parte deles têm a clara noção de que 2015 será muito pior do que imaginavam. Duas palavras que muitos insistiam em deixar de lado, para não secar a única gota de otimismo, voltaram com tudo aos cenários traçados para o ano. Recessão e racionamento tornaram-se ameaças reais.
Nos cálculos dos analistas, são de 60% as chances de contração do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Tal previsão leva em conta uma conjugação de fatores que há pelo menos 10 anos o Brasil não vivencia ao mesmo tempo: aumento do desemprego, famílias com a renda comprometida pela elevação das tarifas públicas, bancos controlados pelo governo retendo crédito, quadro internacional adverso e riscos de falta de energia elétrica. “O momento é de grande apreensão”, admite um técnico da Fazenda.
O clima de tensão só não é maior entre investidores e empresários devido ao discurso de Levy. Mesmo que prevaleça entre os donos do dinheiro o ceticismo em relação à real autonomia do ministro da Fazenda para fazer os ajustes necessários na economia, a ordem é dar um voto de confiança. A torcida é para que a presidente Dilma Rousseff tenha se convencido de que a única alternativa para salvar seu segundo mandato é resolver todos os problemas que ela criou nos últimos quatro anos.
Entre os investidores há a clareza de que os resultados de um ajuste fiscal consistente prometido por Levy e da recomposição das tarifas públicas demorarão a aparecer. Talvez sejam necessários dois anos. Mas o importante, acreditam eles, é zerar os passivos criados por Dilma, que estão impedindo o país de crescer. “Quiçá, em 2017, tenhamos um Brasil melhor”, reconhece um servidor do Banco Central. Ele ressalta, porém, que será preciso muito sangue-frio para a travessia. Haverá uma enorme gritaria contra a disparada da inflação, puxada pelas tarifas públicas, e, sobretudo, pelo desemprego maior e pelo racionamento de energia.
Técnicos do governo reconhecem que as chuvas estão aquém do necessário. Em vez de aumentar, os volumes de água nos principais reservatórios do país estão diminuindo. As usinas térmicas, que deveriam ser acionadas apenas em momentos excepcionais, por serem caras demais, estão operando a pleno vapor há dois anos. “Como fomos abandonados por São Pedro, nos restaram Levy e equipe para dar um pouco de serenidade ao quadro atual. Tomara que eles mantenham os pés no chão e, no papel de salvadores da Pátria, achem que podem tudo. Esse foi o grande erro de Dilma”, afirma um ministro com trânsito no Palácio do Planalto.
Risco aos emergentes
Dentro do governo, parcela importante dos assessores de Dilma reconhece que os acertos de Joaquim Levy não beneficiarão apenas o país. Serão vitais para evitar uma onda de problemas aos mercados emergentes. Com a China em processo de desaceleração econômica e a Rússia em frangalhos, todos os olhos estão voltados para a principal economia latina. Caso o Brasil não consiga reagir e superar as fragilidades que atormentam, o capital estrangeiro detonará o fechamento dos mercados às nações em desenvolvimento. O primeiro grande teste do ministro da Fazenda, por sinal, será o aumento dos juros nos Estados Unidos. Por enquanto, o tempo está jogado a favor dele, já que o Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, está adiando o aperto na política monetária.
Ansiedade ronda o BRB
» É grande a expectativa no Distrito Federal em torno da decisão do Banco Central sobre os nomes indicados pelo governador Rodrigo Rollemberg para o comando do Banco de Brasília (BRB). Sete nomes estão sob análise. A autoridade monetária tem 15 dias para dar seu aval.
Calote no Minha Casa
» Construtores que atuam no Minha Casa, Minha Vida não se cansam de reclamar do governo. Insistem que, do R$ 1,1 bilhão devido pelo Tesouro Nacional desde o fim de 2014, apenas R$ 370 milhões foram pagos. As verbas se referem a subsídios à faixa um do programa, que atende famílias com renda mensal de até três salários mínimos.
Exoneração no Planejamento
» Deve ser publicada no Diário Oficial da União de hoje a exoneração de Ana Lúcia Amorim de Brito da Secretaria de Gestão Pública (Segep) do Ministério do Planejamento. O ministro Nelson Barbosa começa a montar seu time.
Brasília, 00h13min