O governo está tentando de todas as formas convencer as agências de classificação de risco a manterem o grau de investimentos do Brasil, mas o país já foi rebaixado pelo mercado financeiro. Usado como referência pelos agentes privados para medir o grau de confiança de uma economia, o Credit Default Swap (CDS) brasileiro atingiu ontem 306 pontos, acumulando alta de 51% no ano. De longe, foi a maior arrancada entre os países que têm esses papéis listados no mercado.
Para os investidores que recorrem a esse seguro contra calote, a capacidade de a presidente Dilma Rousseff manter o controle do governo está próxima do limite. A cada dia, um fato novo mostra que a petista está refém do PMDB, que já anuncia demissão de ministro antes do Palácio do Planalto, e não tem o menor apoio de seu partido, o PT. Diante dessa fragilidade política, diminui a confiança na capacidade do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de entregar o ajuste fiscal que pode tirar o país do atoleiro econômico no qual afundou.
O desânimo é geral. E a falta de credibilidade do governo está provocando estragos imensos na economia real. Por falta de parâmetro para a formação dos juros, os bancos têm restringido a concessão de crédito. As instituições usam o mercado futuro para definir as taxas que cobrarão da clientela nos empréstimos e financiamentos, mas, como esses índices vêm oscilando muito, a ordem foi suspender operações até que o horizonte fique menos nebuloso.
Ontem, por causa da incerteza política que levou o dólar ao maior patamar em 12 anos, as taxas de juros futuros atingiram 13,77% ao ano nos contratos com vencimento em janeiro de 2016. Nos contratos de janeiro de 2021, bateram em 13,21%. Os encargos estão até um ponto percentual acima da taxa básica (Selic) definida pelo Banco Central, de 12,75%. Ao empurrarem os juros futuros para tal patamar, os investidores deram um sinal claro que de a confiança no governo se esvaiu por completo.
Esperava-se que as recentes declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini, assegurando que a instituição levará a inflação para o centro da meta no fim de 2016, acalmassem os ânimos. Mas os erros sucessivos da autoridade monetária na condução da política de juros e no combate à carestia parecem ter exaurido o capital de Tombini para retomar o controle das expectativas. Para reverter esse quadro, serão necessárias declarações diárias, com números consistentes, mostrando que o país tem capacidade para reduzir quase à metade a inflação, que está raspando os 8%.
Na verdade, nada do que o governo diz está sendo capaz de reverter o pessimismo. Do lado dos consumidores, a intenção de compras desabou para o nível mais baixo da história, conforme levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Na indústria, com os estoques elevados, tornou-se rotina desligar fábricas. A Confederação Nacional do setor (CNI) assegura que, na média, as empresas operam com 34% de ociosidade. Ou seja, um terço do parque produtivo do país está parado.
Diante desse quadro, está se consolidando a percepção de que o tombo do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano será mesmo superior a 1%, com aumento do desemprego. A recessão que se desenha parece ser brutal. É por isso que os investidores estão empurrando tanto a taxa do CDS do Brasil para cima. O risco de México, por exemplo, está em 132, com alta de 27% no ano. O da África do Sul, em 205 pontos, em elevação de 8%.
Como bem lembrou um técnico do governo, todos os países emergentes vêm sofrendo neste momento, em que as fragilidades se acentuaram por causa das perspectivas de aumento das taxas de juros nos Estados Unidos. Mas, entre as grandes economias em desenvolvimento, nenhuma combina um quadro tão assustador quanto a brasileira. O país está em recessão, com inflação de quase o dobro da meta perseguida pelo BC (4,5%), deficit fiscal de 7% do PIB e rombo nas contas externas superior a 4% do PIB. Tudo isso com uma presidente que não completou o terceiro mês do segundo mandato e desfruta de rejeição de 62%. É a receita do caos.
Dedos cruzados
» Técnicos da equipe econômica acreditam que a Moody’s e a Fitch Ratings vão rebaixar o Brasil, para igualar a classificação de risco à avaliação feita pela Standard and Poor’s (S&P). Mas acreditam que quatro ou cinco meses consecutivos de superavit primário vão ajudar o país a manter o grau de investimento. A torcida é grande.
Longe da retomada
» Mesmo os mais otimistas integrantes da equipe de Joaquim Levy não veem chances de retomada da economia no segundo semestre, como prega a presidente Dilma Rousseff. O que haverá, dizem, será um suspiro que pode se transformar em esperança para que, em 2016, o saldo seja positivo, mesmo que pequeno.
Melhor dar o exemplo
» Na tentativa de dar bom exemplo ante a ameaça de racionamento, o Ministério de Minas e Energia mandou desligar um dos elevadores de seu prédio, na Esplanada. Numa placa, justifica que está contribuindo com as medidas “de economicidade” determinadas pelo governo.
Luta contra o desânimo
» Já foi bem, mas bem melhor o clima no Ministério da Fazenda. O entusiasmo de Joaquim Levy, que contaminava a todos, diminui a cada dia. Mas ele se esforça para manter o empenho da equipe. Tem trabalhado até 14 horas por dia.
Brasília, 00h01min