RASTILHO DE PÓLVORA

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A condução coercitiva do ex-presidente Lula para prestar depoimento sobre corrupção na Petrobras mudou a Operação Lava-Jato de patamar e elevou as crises política e econômica a níveis insustentáveis. Daqui por diante, veremos um país conflagrado, que deixará ainda mais distante a possibilidade de a economia sair do atoleiro em que se encontra. Não há mais como pensar em união nacional para pôr em prática as medidas que o Brasil tanto precisa para se levantar.

 

É certo que o governo não desfruta mais da confiança dos agentes econômicos. Para empresários e investidores, o melhor seria que a presidente Dilma Rousseff deixasse imediatamente o poder. Com isso, acreditam, a credibilidade voltaria e seria possível fechar um pacto pelo crescimento. Esse desejo, porém, não pode extrapolar para uma guerra santa, que, com certeza, terá como maior perdedor o país.

 

Como diz um importante banqueiro, a sensação é de que entramos em uma sala cheia de gás, que pode explodir a qualquer momento. O fósforo, diz ele, já foi aceso com a decisão da polícia de levar Lula para depor. A decisão da Justiça de autorizar a condução coercitiva reforça que nenhum cidadão está acima da lei, mas, para muitos, passou a ser a senha do confronto, da luta de classes. Os confrontos em frente à casa do ex-presidente foram o sinal mais claro do clima de beligerância que se instalou no país.

 

Nesse ambiente carregado, temia-se por um fato que pudesse provocar o colapso. E ele veio com Lula sendo retirado de casa para depor. Se, até então, a prisão do líder petista era algo inimaginável, agora se tornou uma possibilidade real. O problema é que a fragilidade atual de Lula acabou por empurrar o governo de Dilma Rousseff para o precipício. Se o ex-presidente cair, como se diz na gíria policial, a chefe do Executivo irá junto. Não há como dissociar os dois.

 

Mergulho na depressão

 

Ninguém acredita mais em uma solução a curto prazo para o Brasil, que está mergulhando na depressão, resultado da mais prolongada recessão de que se tem notícia em décadas. Esperava-se que, mesmo com todas as crises que nos tiram o sono, o país chegasse a 2018, ano de eleições, num cenário menos hostil. Mas, com o terremoto político que abalou a República, continuaremos caminhando num ambiente pantanoso, muito favorável para o aparecimento de salvadores da pátria, que ocupariam o vácuo aberto pela falta de lideranças.

 

O quadro é tão dramático que mesmo pessoas ligadas a Dilma reconhecem que ela perdeu a capacidade de controlar o ambiente político e de tocar as reformas constitucionais que poderiam reanimar a atividade econômica. É por isso que o buraco no qual o país se meteu ainda está longe do fim. “Estamos no pior dos mundos”, diz um assessor do Palácio do Planalto. “Temos um governo frágil, sem apoio político, e uma economia em frangalhos. Isso gera muita confusão e, pior, tensão. Não há como ver o futuro à frente”, emenda.

 

A perspectiva dentro do governo e entre os agentes econômicos é de que, com a economia afundando mais nos próximos meses e o desemprego disparando, os ânimos vão se acirrar. O primeiro grande teste para medir a temperatura será o 13 de março, quando manifestações contra Dilma devem ganhar as ruas. Os confrontos, sobretudo nas capitais onde o PT é mais hostilizado, como São Paulo, tenderão a ganhar contornos preocupantes. Teme-se, inclusive, mortes.

 

Processo de depuração

 

O momento, portanto, exige serenidade. A democracia permite que todos expressem, livremente, suas opiniões. O fato de alguém discordar de alguma posição não significa um chamado para a briga. O que todos devem ter em mente é que o Brasil está passando por um processo de depuração, expondo o que há de pior, como a corrupção que dizimou o caixa da Petrobras, empresa que já foi símbolo de eficiência no país.

 

A Lava-Jato veio para ficar. Não há mais retorno, gostem ou não gostem. Quando ela chegar ao fim, não há dúvidas de que o Brasil estará melhor. A operação está mostrando que não há mais cidadão de primeira e segunda classes. Todos são iguais perante as leis. Acabou o tempo em que somente negros, pobres e ladrões de galinha iam presos. Trata-se de uma conquista da qual temos que nos orgulhar — e muito.

 

Brasília, 08h30min