Se realmente estivesse forte, Guedes não precisaria que o presidente da República se deslocasse para o Ministério da Economia a fim de fazerem um pronunciamento conjunto, de apoio mútuo. Até aquele momento, o ministro estava fora do governo. Ele precisava de um suporte para não cair de podre.
Guedes se submeteu a mais uma humilhação. Além de não conseguir reverter nenhuma das gambiarras fiscais que levaram aos pedidos de demissão de quatro importantes secretários do ministério, assumiu publicamente que entrou para a ala dos fura-teto.
O vexame de Guedes ficou maior ao admitir que a ala política do governo foi até o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, procurar um substituto para ele, o ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida. A confissão veio por meio de um ato falho, ao anunciar o substituto de Bruno Funchal para a Secretaria Especial do Tesouro e Orçamento. Em vez de Esteves Colnago, Guedes disse André Esteves.
O bobo da corte
Daqui por diante, Guedes viverá na corda bamba. A ala política do governo, liderada pelo Centrão, vai encurralá-lo até ele pedir arrego. O argumento do fogo amigo já está pronto: o ministro não terá o que entregar quando as eleições começarem para valer. A economia estará no buraco, com inflação e juros em alta.
Guedes rasgou a cartilha liberal para entregar o que Bolsonaro queria, o Auxílio Brasil de R$ 400, mas, com o custo de vida nas alturas — alimentos, energia elétrica, combustíveis —, o benefício será corroído rapidamente. De nada adiantará jogar a responsabilidade fiscal no lixo.
O ministro fez suas escolhas. Jogou na mesa o pedido de demissão apostando que Bolsonaro o recusaria. E acertou no alvo. Contudo, diminuiu de uma forma tão aviltante, que virou uma peça descartável. Guedes levou 30 anos para realizar o sonho de ser ministro. Agora, é visto como o bobo da corte.
Brasília, 20h21min