ROSANA HESSEL
Ao fazer uma análise comparativa dos programas de governo dos líderes das pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a consultoria britânica Capital Economics avalia que, apesar das diferenças, “não dá para levar as propostas ao pé da letra”. A entidade alerta para a falta de compromisso com o fiscal de Bolsonaro ao adotar medidas eleitoreiras, deixando de lado o liberalismo, e considera que o programa de Lula pode não ser tão radical como parece.
“Há razões para não levar esses manifestos ao pé da letra. No caso do presidente Bolsonaro, a plataforma econômica de livre mercado que formou grande parte de sua campanha em 2018 — e sustentou as esperanças dos investidores — foi amplamente deixada de lado desde o início da pandemia. As reformas foram fragmentadas e a austeridade fiscal foi colocada em segundo plano, uma vez que as preocupações eleitorais ganharam prioridade”, destacou William Jackson, economista-chefe de Mercados Emergentes da Capital, em relatório enviado aos clientes e ao qual o Blog teve acesso.
“O ex-presidente Lula lidera as pesquisas antes das eleições presidenciais do Brasil em 2 de outubro. Parece improvável que ele governe tão radicalmente quanto a proposta que seu partido sugere, mas, mesmo assim, nenhum dos principais candidatos parece capaz de enfrentar os problemas fiscais e de crescimento do país”, comparou o analista.
Na avaliação de Jackson, o próprio Lula deu mensagens contraditórias. “O programa aponta para uma acentuada virada para a esquerda, mas a nomeação do político de centro-direita Geraldo Alckmin (PSB), como vice-presidente na chapa, visa claramente apresentar uma imagem mais moderada. De qualquer forma, a principal mensagem de Lula parece ser voltar à sua presidência de 2003-2010”, acrescentou.
De acordo com o analista da Capital, uma grande incógnita é se o presidente Bolsonaro aceitaria uma perda e deixaria o cargo em silêncio. “Não temos nenhuma visão particular sobre isso. Mas seus avisos regulares de fraude eleitoral significam que as instituições brasileiras podem enfrentar um grande teste. Um resultado eleitoral contestado provavelmente colocaria os mercados financeiros locais sob pressão”, alertou.
Diferenças
Os programas de Lula e de Bolsonaro, segundo o economista, apresentam visões radicalmente diferentes sobre como a economia deve ser administrada. “A proposta de Bolsonaro promete amplamente mais da mesma agenda pró-mercado – mais privatizações, mais flexibilidade no mercado de trabalho, consolidação fiscal de longo prazo e simplificação da tributação regime”, destacou o analista, fazendo a ressalva de que a agenda liberal foi deixada “amplamente de lado”.
Em contrapartida, o programa de Lula promete um Estado mais intervencionista, de acordo com Jackson. “Busca uma moeda estável e uma expansão dos controles de preços para domar a inflação, expandir o bem-estar social, fortalecer o papel dos sindicatos e se opõe veementemente às privatizações. Além disso, a proposta petista promete revogar o teto de gastos do Brasil, a ser substituído por um novo regime fiscal ainda não especificado”, completou.