Por Simone Kafruni
Conhecido por fazer duras críticas ao PT, o professor de Macroeconomia da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Ellery aceitou participar de uma das diversas equipes que a campanha do candidato à Presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, está formando. O professor, no entanto, nega que participará de um eventual governo, caso Bolsonaro saia vencedor no segundo turno.
Ellery explicou que já havia sido convidado a participar da equipe de produtividade da campanha pelo diretor-adjunto de estudos e políticas regionais, urbanas e ambientais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Adolfo Sachsida, responsável pelo recrutamento de economistas para Bolsonaro. Porém, negou o primeiro convite.
Macroeconomista, Roberto Ellery trabalha com crescimento econômico, com ênfase em produtividade, e defende a manutenção do tripé macroeconômico. “Acredito que é muito importante a disciplina fiscal. O Banco Central tem que ter compromisso com a inflação e tem que trabalhar para reduzi-lá. Neste sentido, a atual equipe do presidente Ilan (Goldfajn) é excepcional. E o câmbio tem que ser flutuante, definido pelo mercado”, disse, em sua sala de professor no campus da UnB.
“Na pré-campanha, conversei com várias coordenações e pessoalmente com os candidatos Ciro (Gomes, do PDT) e Álvaro Dias (Podemos). Mas, sobretudo, conversei muito com o Adolfo Sachsida, que é meu amigo há 20 anos, desde que entrei no Ipea, em 1998”, contou. Segundo o professor, quando terminou o segundo turno, na segunda-feira, Sachsida ligou novamente e fez um “ultimato de amigo”. “Ele me disse: agora precisamos de você, estamos trabalhando na parte macroeconômica.”
Ellery assinalou que não vai contribuir para o programa de governo, porque esse já está pronto e publicado. “Temos que entender que se Bolsonaro ganhar, terá três meses para começar a trabalhar. Então vai precisar de uma equipe técnica. Eu me comprometi com o Adolfo a fazer esse trabalho, pensando no período de discussão”, ressaltou.
O professor destacou, contudo, que está feliz na UnB e gosta de dar aula. “Quero dar minha contribuição para desenhar o plano econômico, porque entendo que a macroeconomia do Brasil precisa de ajuda e eu posso colaborar, apesar de ter uma certa má vontade com político. Sempre tive”, brincou.
Quem conhece o professor, sabe que, nas suas redes sociais, utilizou o avatar do Cabo Daciolo durante as eleições. “Fiz isso, claramente, brincando com a política. Mas agora acredito que não posso fugir da responsabilidade”, disse.
Ellery confirmou que tem muitas críticas ao PT. “Faço críticas duras, sim. Por isso aceitei o convite. Para construir uma alternativa sólida que ajude a população e o país a sair dessa crise”, comentou.
O novo integrante da equipe ainda não teve nenhuma reunião com a coordenação de campanha de Bolsonaro, nem com os colegas. “Pode ser que eu chegue lá e eles me mandem embora por detestar o que estou dizendo. Eu vou aceitar isso numa boa, porque não tenho pretensão de cargo. Estou indo como quem leciona o assunto e tem ideias. Se vão ser aceitas, eu não sei. Se serão inseridas no programa do candidato, eu também não sei. Estou indo com este espírito.”
Concursado do Ipea, Ellery trabalhou no instituto por quatro anos. De lá, abdicou de um salário maior para lecionar na UnB, onde está desde 2002. Já foi chefe de departamento, coordenador de pós-graduação e diretor da Faculdade de Economia. Atualmente é professor de Macroeconomia. “Esta é minha casa”, completou.