ROSANA HESSEL
A vitória dos candidatos do presidente Jair Bolsonaro na eleições para as presidências da Câmara e do Senado não significa em grandes avanços da agenda econômica liberal na economia defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e, principalmente, das privatizações, que devem continuar travadas, na avaliação da economista e advogada Elena Landau, ex-diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
De acordo com a especialista que foi responsável pelo programa de privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, o governo não tem uma agenda clara e bem desenhada, e, por conta disso, não conseguiu avançar desde que assumiu o poder. Ela lembrou que Guedes tem fixação em ressuscitar a Contribuição sobre Movimentação Financeira (CPMF) e pode achar que, com a saída de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que era terminantemente contra a volta desse tributo, há agora espaço para ele voltar com essa ideia na retomada das discussões da reforma tributária, usando a desoneração da folha como um subterfúgio.
“É aí que mora o perigo, porque Guedes pode querer emplacar a volta da CPMF. Imagino que ele consiga avançar com a PEC Emergencial, porque alguma coisa tem que ser feita na área fiscal, mas, ele vai precisar avançar com as privatizações também”, afirmou. Para ela, voltar com a CPMF será um retrocesso. O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), informou que esse tributo não tem espaço para avançar no Congresso.
Sem desculpas
Elena lembrou que, agora, Guedes agora não tem mais desculpa do fracasso de suas promessas, que costumava jogar nas costas de Maia, que sempre foi simpático à agenda econômica mais liberal. “Agora que o governo tem os presidentes da Câmara e do Senado do lado dele, ele não vai ter desculpa de que não consegue avançar nas privatizações”, acrescentou. Contudo, ela acha que dificilmente as privatizações devem avançar nessa segunda metade do mandato do governo Bolsonaro, que nunca foi um liberal.
Vale lembrar que, nesta quarta-feira (03/02), os novos presidentes da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) e do Senado, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), assinaram um compromisso de acelerar reformas e combater a pandemia por meio da vacinação mais ampla. Contudo, não declararam apoio à agenda de privatizações, atualmente, desfigurada da promessa durante a posse do ministro Paulo Guedes, que esperava arrecadar R$ 1 trilhão com a venda das estatais federais.
“Paulo Guedes não tem agenda e tem um espaço pequeno”, disse a economista. Ela lembrou que a verdadeira reforma tributária de Guedes ainda é desconhecida e a reforma administrativa que ele enviou ao Congresso é muito tímida. Quem tem agenda é o Bolsonaro e o que a gente conhece, é uma agenda muito ruim. Vamos ver se o Centrão vai obedecer o governo”, ressaltou Elena Landau.