Previsões econômicas dentro do governo estão divergentes

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ROSANA HESSEL

As projeções da equipe econômica e de vários órgãos do governo estão bastante divergentes em meio às turbulências internas e externas, mostrando que não há um consenso. Enquanto o Ministério da Economia elevou recentemente de 0,8% para 0,85% a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, o Banco Central, mostrou-se mais otimista nesta quinta-feira (26/09), revisando de 0,8% para 0,9% a previsão de avanço do PIB de 2019, conforme o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta quinta-feira (26/09) A mediana das projeções do mercado, que constam no boletim Focus semanal do BC, autarquia sob o guarda-chuva da pasta, está em 0,87%.

Essa divergência de números também pode ser vista nas previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), também ligado ao Ministério da Economia, e presidido por um dos conselheiros do ministro Paulo Guedes: Carlos Von Doellinger. O órgão preferiu ser mais conservador e manteve em 0,8% a estimativa de avanço da atividade econômica em 2019, conforme dados de hoje da Carta de Conjuntura. De acordo com o documento, a trajetória de evolução da confiança da indústria “está pior do que se esperava”. O Indicador Ipea de Hiato do Produto, que mede o grau de ociosidade da economia brasileira, foi estimado em 3%, em 2019, e deve fechar 2020, em 2%.

Para 2020, expectativa de expansão do PIB foi revisada pelo Ipea de 2,5% para 2,1%, dado mais otimista do que o do mercado e o do Banco Central. A mediana das projeções para o PIB do ano que vem que constam no boletim Focus desta semana, está em 2%, mas há várias instituições financeiras prevendo que o PIB ficará abaixo desse patamar. Não à toa, o relatório de inflação do BC apontou uma previsão de crescimento real de 1,8% para 2020, reconhecendo ainda “elevado grau de incerteza”.

Apesar dessa falta de convergência nas projeções é possível ver uma semelhança: os dados mostram que a retomada ainda será lenta. Logo, o cenário para o processo de retomada da economia ainda não é animador para os investidores. Vale lembrar que, no relatório de inflação deste mês, o Banco Central também revisou a estimativa para o deficit em  transações correntes em 2019, de US$ 19,3 bilhões para US$ 36,3 bilhões. A autoridade monetária ainda reduziu a projeção para o Investimento Direto no País (IDP) no ano, de US$ 90 bilhões para US$ 75 bilhões, uma diferença expressiva mostrando que o fluxo de entrada de dinheiro externo no país está bem menor do que se esperava pelo governo.

Vicente Nunes