Pressão sobre o dólar pode levar BC a subir juros para 2,75% ao ano

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O clima está pesado no Banco Central. Mesmo tendo feito duas intervenções no mercado de câmbio nesta quinta-feira (25/02), queimando US$ 1,5 bilhão das reservas internacionais do país, o dólar se manteve em disparada e encerrou os negócios cotado a R$ 5,513 para venda, com alta de 1,70%.

Com a moeda norte-americana se mantendo acima do nível psicológico de R$ 5,50, integrantes do governo e do mercado financeiro já admitem a possibilidade de o BC ser obrigado a pesar a mão na taxa básica de juros (Selic) e aumentá-la em 0,75 ponto percentual, para 2,75% ao ano, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 16 e 17 de março.

Há um componente político importante nesta questão: o dólar em disparada, combinado com a alta das cotações do petróleo no mercado internacional, pressiona por mais aumento nos preços dos combustíveis, tema que levou o presidente Jair Bolsonaro a demitir o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.

Entre integrantes da equipe econômica que têm juízo, a visão é a de que uma elevação mais forte do dólar diminuirá as distorções nos juros, que estão cada vez mais negativos por causa do aumento da inflação. Uma Selic a 2,75% em março já seria suficiente para acalmar os ânimos dos investidores, que veriam um BC ativo.

Tudo joga contra o país

Até o início desta semana, as discussões dentro do governo e no mercado eram se a Selic subiria 0,25 ou 0,50 ponto. Agora, o debate migra para alta entre 0,50 e 0,75 ponto. A mudança de percepção mudou depois do estrago feito por Bolsonaro ao intervir na Petrobras.

Há uma conjuntura perversa jogando contra o governo e que vai enlouquecer Bolsonaro: possibilidade de recessão econômica no primeiro semestre, dólar e inflação apontando para cima, juros também aumentando, confiança do consumidor em baixa, contas públicas em frangalhos e pandemia descontrolada.

Alguém do governo terá de fazer algo para tentar conter os nervos dos agentes econômicos, e isso passa pelo Banco Central, agora, com autonomia formal. Melhor do que a autoridade monetária ficar queimando reservas internacionais e o dólar apontando para os R$ 6 é empurrar a fatura para os juros, que, mesmo em 2,75% ao ano, continuarão próximos dos níveis mais baixos da história.

Os próximos dias serão determinantes para o Banco Central, que precisa dar um reposta rápida ao quadro dramático que se desenhou.

Brasília, 18h01min

Vicente Nunes