Pressão do governo é para que BC dê todo aumento de juros neste ano e não contamine 2022

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Quem viu o discurso do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta terça-feira (14/09), interpretou as falas como um sinal de que a instituição não vai embarcar na onda do mercado para pesar a mão na taxa básica de juros (Selic), com aumentos entre 1,25 e 1,50 ponto percentual nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Mas, dentro do próprio governo, há defesa veemente de que, se o Copom tiver mesmo que levar os juros para dois dígitos, como já se cogita, que o faça neste ano e não contamine 2022, quando o presidente Jair Bolsonaro tentará a reeleição. Como diz um integrante do Palácio do Planalto, “é melhor fazer o serviço sujo logo”.

Os que defendem um Banco Central mais ativo diz que, em 2022, Bolsonaro precisará dar muitas boas notícias na seara econômica se quiser continuar competitivo. O entendimento é de que o BC já errou demais e tem culpa pelo atual descontrole inflacionário. Portanto, dizem, que Campos Neto se redima e se antecipe ao mercado e coloque a inflação sob controle.

“Quem sabe, mais próximo das eleições, o BC até tire um pouco do excesso dos juros, o que será muito bem-visto pelos eleitores”, afirma um assessor do Planalto. Para ele, 2021 já está perdido na economia. “O país vai crescer 5%, mas será nada diante do que caiu em 2020. O que precisamos é controlar a inflação logo, para que o crescimento seja maior em 2022”, frisa.

Mesmo dentro do BC, há divisão quanto aos rumos da taxa Selic. Uma parte dos diretores vem defendendo um aperto monetário mais forte na reunião da próxima semana e nas duas seguintes. Não por acaso, operadores de mercado esperam ver divisão nos votos do Copom.

A taxa básica de juros está em 5,25% ao ano. Caso prevaleça o que diz Campos Neto, de “fazer o que precisa ser feito” sem se reagir “a dados de alta frequência”, serão três aumentos de um ponto percentual nas três reuniões do Copom que ainda restam neste ano, para 8,25% ao ano. Se a opção for por uma política monetária mais restritiva, os juros podem passar de 9%. A conferir.

Brasília, 15h58min

Vicente Nunes