O ex-presidente Lula profetizou: se a economia não melhorar até junho, o povo vai se rebelar de vez contra a presidente Dilma Rousseff. Isso significa dizer: sair do marasmo e ocupar as ruas. É verdade que todas as falas de Lula vêm carregadas de exageros, para o bem ou para mal. Mas, desta vez, ele pode estar coberto de razão. A insatisfação da população é crescente. E como não há perspectiva de recuperação da atividade nos próximos meses — pelo contrário, a tendência de piora é visível —, Dilma deve se preparar para uma pressão avassaladora.
Não é por acaso que a presidente está tentando se aproximar do Congresso e prometendo fazer a polêmica reforma da Previdência Social. De um lado, ela tenta consolidar apoio entre os parlamentares que podem votar em um possível processo de impeachment. De outro, indica ao mercado financeiro que está disposta a resolver o principal problema das contas públicas. Dez entre 10 analistas apontam o atual modelo previdenciário como insustentável, capaz de levar o país à bancarrota. Se Dilma realmente encaminhar a proposta de reforma ao Legislativo, ganhará alguns pontos entre os investidores.
Ninguém acredita, porém, no sucesso da empreitada da presidente. Ela sequer consegue aglutinar votos em seu partido, o PT. Promete reformar a previdência, mas ainda não tem um projeto fechado. Isso confirma que esse governo só funciona a base de improvisos. Por isso, coleciona tantos fracassos. Desde que começou o segundo mandato, a petista lançou uma série de medidas com o intuito de conter a deterioração fiscal. Mas só entregou frustração. Nada, nem mesmo nos tempos de Joaquim Levy no comando do Ministério da Fazenda, foi adiante.
Equívocos
Na avaliação da economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, não há como esperar muita coisa de um governo politicamente frágil e que só comete equívocos na condução da economia. Para ela, o fundo de poço ainda não chegou. As projeções apontam que o Produto Interno Bruto (PIB) deverá ter queda entre 1,1% e 1,3% no primeiro trimestre deste ano na comparação com os últimos três meses de 2015. Nos trimestres seguintes, haverá retração, mas não tão forte. Em compensação, o desemprego tenderá a disparar.
Pelos cálculos de Solange, o PIB deste ano terá contração de 4%. Será um baque para as famílias e para as empresas. O consumo desabará e muitas firmas tenderão a fechar as portas. A economista ressalta que, depois da indústria, que afundou nos últimos anos, será a vez de o setor de serviços caminhar ladeira abaixo. “Na melhor das hipóteses, veremos alguma melhora em 2017. Ainda assim, a economia deverá crescer apenas 0,2%”, acrescenta.
Para Solange, os fatores políticos serão determinantes para a recuperação da confiança a partir do próximo ano. “A perspectiva de mudança no poder em 2018 tende a mexer com os ânimos dos investidores”, afirma. No entender dela, a base da desconfiança que empurra o país para o buraco está na falta de um ajuste fiscal consistente. “A inversão fiscal só virá com um novo governo”, frisa. “Na atual administração, não teremos melhora fiscal nem reforma da Previdência”, emenda.
Medo de calote
Solange também não acredita em uma queda mais forte da inflação, como pregou o diretor de Assuntos Econômicos do Banco Central, Altamir Lopes, em conversa dos analistas privados nos últimos dois dias. Ela prevê índice de 8% em 2016, uma taxa pesada para uma economia que, no ano anterior, registrou carestia de quase 11%. A economista da ARX ressalta ainda a possibilidade de o dólar forçar essa projeção para cima, caso haja uma disparada das cotações da moeda. “Não vemos o dólar a R$ 5. Mas tudo pode acontecer”, sentencia.
Diante desse quadro assustador, a população sofrerá muito. Não há escapatória. Foram anos e anos de equívocos do governo. E não será em dois ou três meses que Dilma conseguirá reverter o desastre. Ela conseguiu a façanha de destruir quase todas as conquistas da população. O desemprego já é o pior desde 2006. As vendas do varejo tiveram, no ano passado, a maior queda desde 2001 e vão cair mais em 2016. A dívida pública aumentou mais de 150% desde 2003, quando Lula tomou posse. Esse salto trouxe de volta o fantasma do calote nos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional.