ROSANA HESSEL
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, demonstrou preocupação com a nova variante do coronavírus, identificada na África do Sul mas com caso confirmado na Bélgica, que mexeu com os mercados nesta sexta-feira (26/11).
“Houve uma piora na Europa. Hoje os mercados estão sentido bastante essa variante, supostamente da África do Sul. Os mercados estão sofrendo”, afirmou Campos Neto, em evento virtual com investidores do setor imobiliário promovido pelo Secovi-SP, demonstrando preocupação com o impacto dessa nova cepa. Ele admitiu que, antes dessa notícia, achava que não iria mais precisar abrir as apresentações com dados sobre a covid-19 no mundo. “Acho que não vou conseguir se livrar tão cedo do primeiro slide, mas estamos na torcida para isso. A gente espera que todo mundo vá bem e consiga se livrar da covid-19”, acrescentou.
De acordo com o presidente do Banco Central, comparado com o mundo desenvolvido, o Brasil está “indo bem na vacinação”, devido ao fato de a rejeição da população contra o imunizante ser muito baixa. “Em termos de vacinação, o Brasil passou vários países do primeiro mundo. Está com números de casos cadentes em grande parte dos estados. E, obviamente, a gente tem essa preocupação com a Europa e o impacto (dessa nova variante). Mas a vacinação tem sido um sucesso no Brasil”, afirmou. Na avaliação do ministro, o avanço de outros tipos de medicamentos antivirais no combate à covid-19 é importante, porque devem “ampliar o arsenal” no combate à pandemia.
Durante a apresentação, Campos Neto reconheceu que a inflação é uma preocupação global, assim como o risco de estagnação das economias, devido à recente desaceleração da China. Segundo ele, o problema da persistência dos preços mais elevados no país não é apenas resultado do choque oferta, mas também de demanda, e ele citou como exemplo, o aumento no uso da energia pelo setor produtivo.
Deterioração fiscal
Em relação ao mau humor dos agentes financeiros desde outubro, diante da deterioração das perspectivas em relação ao cumprimento das regras fiscais, o presidente do BC tentou minimizar os problemas nas contas públicas apontados por especialistas provenientes da aprovação da PEC dos Precatórios. A matéria prevê um calote nas dívidas judiciais e acaba com o teto de gastos ao antecipar a mudança da metodologia de cálculo do limite para ampliar o espaço para o governo gastar mais sob a desculpa da ampliação do Bolsa Família.
“Foi pago um preço muito caro por um desvio relativamente pequeno”, afirmou Campos Neto aos empresários do setor imobiliário. No entanto, ele reconheceu que houve um problema de comunicação do governo e é “preciso consertar a narrativa” em relação às mudanças que estão sendo feitas, “olhando para frente” de como será o arcabouço fiscal.
Campos Neto evitou comentar sobre as medidas populistas que estão sendo cogitadas com a PEC dos Precatórios, que criará uma folga fiscal de mais de R$ 106 bilhões no Orçamento de 2022, conforme dados atualizados do Ministério da Economia. Vale lembrar que o próprio governo admite que o necessário para ampliar o novo Bolsa Família é um valor bem menor, de R$ 51,1 bilhões.
Pelos cálculos do consultor da Câmara e especialista em contas públicas Rodrigo Volpe, apresentados aos senadores que estão avaliando a PEC, o adiamento de parte dos precatórios que estão programados para serem pagos, devido à imposição de um limite anual, poderá aumentar a dívida pública em R$ 1 trilhão até 2036, ano em que acaba a vigência da regra do teto.