Presidente da China resiste a falar com Bolsonaro

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O Itamaraty vem tentando, sem sucesso, desde a quarta-feira, 18 de março, um contato institucional entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da China, Xi Jinping, a fim de dissipar o mal-estar criado pelas declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro. Ele acusou a China de ser a responsável pela criação no novo coronavírus para ampliar seu poder econômico no mundo.

A tentativa para um contato entre Bolsonaro e Xi vem sendo conduzida pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que se posicionou a favor do deputado ao considerar “inaceitável” a crítica feita ao parlamentar pelo embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, por meio de uma rede social.

Em nota divulgada pela embaixada, fica clara a tentativa de Araújo de colocar Bolsonaro na linha com o presidente chinês. “A parte chinesa não aceitou a gestão feita pelo chanceler Ernesto Araújo na noite do dia 18”, informa o documento.

Para o governo chinês, “as palavras do Eduardo Bolsonaro causaram influências nocivas, vistas como um insulto grave à dignidade nacional chinesa, e ferem não só o sentimento de 1,4 bilhão de chineses, como prejudicam a boa imagem do Brasil no coração do povo chinês”

Bolsaro admitiu, nesta sexta-feira (20/03), que está tentando um contato com Xi Jinping. Para que o presidente chinês o atenda o pedido do governo brasileiro será preciso, porém, que Eduardo peça desculpas públicas ao país asiático. Isso está claro na nota e na entrevista do embaixador chinês ao Correio. As relações entre o Brasil e a China nunca estiveram tão esgarçadas.

Veja a íntegra da nota da embaixada da China no Brasil

“Em 18 de março, o deputado federal Eduardo Bolsonaro fez acusações sem fundamentos anti-China no seu Twitter, atacando as medidas tomadas pelo governo chinês no combate à COVID-19 e difamando o nosso sistema político. Estamos extremamente chocados por tal provocação flagrante contra o governo e povo chinês. Manifestamos nossa profunda indignação e forte protesto pela atitude irresponsável do deputado Eduardo Bolsonaro.

Como deputado federal e figura pública especial, as palavras do Eduardo Bolsonaro causaram influências nocivas, vistas como um insulto grave à dignidade nacional chinesa, e ferem não só o sentimento de 1,4 bilhão de chineses, como prejudicam a boa imagem do Brasil no coração do povo chinês. Geram também interferências desnecessárias na nossa cooperação substancial. Tal comportamento é totalmente errôneo e inaceitável, veementemente repudiado pelo lado chinês. O Embaixador Yang Wanming já comunicou ao chanceler Ernesto Araújo a nossa posição solene. Temos pleno conhecimento da política externa brasileira com a China e acreditamos que nas suas linhas não houve qualquer mudança.

Ao mesmo tempo, opomo-nos às difamações e insultos contra a China impostos por qualquer um e sob qualquer forma. A parte chinesa não aceitou a gestão feita pelo chanceler Ernesto Araújo na noite do dia 18. O deputado Eduardo Bolsonaro tem que pedir desculpa ao povo chinês pela sua provocação flagrante. O lado chinês defende sempre e de forma resoluta os seus princípios e jamais será ambíguo e tolerante com qualquer prática que afronte os seus interesses fundamentais. Esperamos que alguns indivíduos do lado brasileiro, na sua minoria, abandonem as suas ilusões e muito menos subestimem a nossa resolução e capacidade de salvaguardar os nossos próprios interesses.

Ao longo do ano passado, com o esforço conjunto dos dois países, o relacionamento sino-brasileiro tem se desenvolvido de forma saudável e estável. O Presidente Xi Jinping e o Presidente Jair Bolsonaro efetuaram uma troca de visitas, conseguindo alcançar novos consensos sobre as relações bilaterais. O Diálogo Estratégico Global China-Brasil foi realizado com pleno sucesso, fazendo com que a nossa confiança política mútua fosse consolidada.

Desde o surto do COVID-19, os nossos dois países têm mantido contatos estreitos e amistosos. O Presidente Bolsonaro manifestou a solidariedade para com o governo e povo chinês, razão pela qual o lado chinês agradece muito. Atualmente, de acordo com o pedido do Ministério de Saúde do Brasil, estamos ajudando o país a adquirir os materiais médicos mais urgentes da China.

Ao longo do último dia, temos recebido apoio e solidariedade de todos os setores da sociedade brasileira. Ao manifestarmos a nossa gratidão, percebemos que os que atrapalham o desenvolvimento das relações bilaterais se limitam a uma minoria na população brasileira, enquanto a maioria esmagadora está em defesa da nossa fraternidade. Esperamos que o Itamaraty possa tomar ciência do grau de gravidade desse episódio e alertar o deputado Eduardo Bolsonaro a tomar mais cautela nos seus comportamentos e palavras, não fazer coisas que não condizem com o seu estatuto, não falar coisas que prejudiquem o relacionamento bilateral e não praticar atividades que danifiquem a nossa cooperação. Temos a certeza de que o Itamaraty certamente vai levar em consideração o quadro geral das relações sino-brasileiras e envidar esforço junto conosco para salvaguardar o ambiente favorável do nosso relacionamento.”

Vicente Nunes