Mesmo que a alta do dólar promova algum alívio no rombo das contas externas neste ano, com o aumento das exportações e a redução das importações, o Brasil enfrentará forte pressão sobre seu balanço de pagamentos. Com o fechamento dos mercados internacionais às empresas brasileiras, devido à corrupção que trincou a Petrobras, a maior parte dos débitos que vencerão ao longo deste ano terão de ser pagos. Isso significará expressiva saída de recursos do país.
Dados do Banco Central mostram que, em 2015, entre principal e juros das dívidas, o país terá de honrar US$ 85 bilhões, sendo US$ 75,1 bilhões do setor privado. Em tempos de normalidade, diz o economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, Evandro Buccini, bancos e empresas não só conseguiriam refinanciar todos os débitos como ainda poderiam captar uma parcela extra de recursos.
Agora, na melhor das hipóteses, somente uma parte dos vencimentos será renegociada. Os credores estão receosos em relação à capacidade de pagamento das empresas, devido aos sérios problemas econômicos enfrentados pelo Brasil. Para completar, muitos investidores foram machucados pela queda brutal dos preços das ações da Petrobras e cobram o ressarcimento dos prejuízos em tribunais dos Estados Unidos e da Europa. A imagem do país se desintegrou.
Por causa do péssimo desempenho da economia, que, pelos cálculos de Buccini, registrará retração entre 1,5% e 2% neste ano, também os investimentos estrangeiros diretos (IED), voltados para o setor produtivo, devem se retrair. “Estamos projetando entrada de menos de US$ 55 bilhões em 2015”, ressalta. A se confirmar tal previsão, o país ficará mais dependente de capital especulativo para cobrir o buraco nas transações correntes com o exterior, que deve chegar a US$ 79,5 bilhões.
O economista da Rio Bravo ressalta que, nos últimos dias, houve uma entrada forte de recursos estrangeiros para a bolsa de valores, porque muitas ações de empresas brasileiras ficaram baratas com a disparada o dólar. Mas se trata de dinheiro arisco, que pode sair a qualquer momento, em caso de agravamento das crises política e econômica que atormentam o país.
Para Buccini, o clima de pessimismo e de desconfiança em relação ao Brasil está longe de se dissipar. Esperava-se que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tivesse mais facilidade para implantar o pacote de ajuste fiscal apontado como a tábua de salvação da presidente Dilma Rousseff. Mas o que se vê é a maioria da base aliada do governo com sérias resistências às medidas de arrocho. Há críticas até no setor privado.
“Se o clima fosse mais tranquilo para o ajuste, certamente, a credibilidade já estaria sendo retomada”, acredita Buccini. Seria a repetição do que se viu em 2003, quando o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, deu um tranco na economia para convencer os investidores de que o governo petista recém-eleito não faria maluquices. Não só manteve o tripé macroeconômico — câmbio flutuante, metas de inflação e superavit fiscal —, como o reforçou. Em pouco mais de seis meses, o Produto Interno Bruto (PIB) já havia recuperado as forças e cresceu por um longo período com a inflação em baixa.
Agora, mesmo com Levy dando o maior cavalo de pau da história brasileira na questão fiscal, prometendo sair de um deficit de 0,6% para superavit de 1,2% do PIB com medidas corretas, as pessoas preferem apostar que o ministro não durará muito tempo no cargo em vez de acreditar que o compromisso de responsabilidade na gestão dos recursos públicos é para valer. “Por isso, as previsões cada vez piores para o nível de atividade”, diz Buccini.
Sendo assim, será preciso muito mais do que aplausos da bancada do PT a Levy para acalmar os ânimos dos agentes econômicos. Depois de tantas frustrações, o que todos querem ver são as medidas de arrocho fiscal aprovadas no Congresso Nacional, e com boa margem de votos. Para o tamanho do ajuste que precisa ser feito, o país não pode conviver com um governo tão fraco. Qualquer sinal de fracasso será fatal para enterrar os votos de confiança.
Transparência da Fazenda
» O Ministério da Fazenda deve passar a prever queda do PIB neste ano na primeira revisão bimestral que fizer das receitas e despesas orçamentárias de 2015. Ao que tudo indica, a contração prevista pela equipe de Joaquim Levy deve acompanhar o Boletim Focus, do Banco Central, que mostra tombo de 0,78% na atividade. Por outro lado, o governo vai se beneficiar da inflação mais alta para inflar a arrecadação.
Dúvidas em relação ao BC
» Se a Fazenda tende a ser mais realista com os números da economia, o mesmo não se deve esperar do Banco Central, que divulga, no fim do mês, o relatório trimestral de inflação. Poucos são os analistas que acreditam na possibilidade de a instituição assumir que o PIB deste ano será negativo. Se o fizer, será uma grata surpresa e um ganho de credibilidade.
Falta de lastro
» Técnicos do Banco do Brasil estão assustados com a falta de lastro para as Letras de Crédito Imobiliário (LCI). As aplicações nesses papéis têm crescido muito, mas, com o setor da construção civil em processo de encolhimento, não há empreendimentos suficientes para receber os recursos que engordam o caixa das instituições financeiras.
Servidores no ataque
» Os servidores públicos, que sempre apoiaram o PT, prometem dar muito trabalho para a presidente Dilma nos próximos meses. Dizem que compreendem a necessidade de o governo fazer ajuste fiscal, mas não aceitarão ficar sem qualquer reajuste. Prometem mais barulho do que em 2012, quando várias categorias cruzaram os braços por meses.
Brasília, 00h01min