PORTAS FECHADAS

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As empresas brasileiras que, nas últimas semanas, foram atrás de empréstimos no mercado internacional se depararam com um clima muito hostil em relação ao país. Apesar dos bons resultados que vêm apresentando, independentemente da grave crise que paralisa a atividade, as companhias ouviram dos investidores que o momento não é propício para se ampliar o risco Brasil.

Ainda que o cenário principal dos investidores não seja o de perda de mandato da presidente Dilma Rousseff nem de colapso da economia, ninguém vê, a curto prazo, um sinal de trégua para o governo. O entendimento é de que as manifestações do último domingo ficaram aquém do imaginado pelos analistas, o que dá um alívio momentâneo ao Palácio do Planalto. Mas tudo conspira contra o país.

“Estamos vendo uma trégua no mercado interno, sobretudo na questão política, já que o Senado resolveu cooperar com o governo, mas o horizonte no exterior ficou mais complicado. A China tornou-se uma ameaça no curto prazo e o aumento dos juros nos Estados Unidos está se aproximando”, diz Daniel Cunha, estrategista da XP Securities em Nova York. “Estão todos apreensivos sobre a capacidade do Brasil de lidar com esses eventos externos”, acrescenta.

Na avaliação de Cunha, o ambiente para investimentos no país está bastante turvo. Não há previsibilidade em relação ao dólar, há muita inquietação com os rumos da Operação Lava-Jato, que desvendou a roubalheira na Petrobras, e a economia mergulhou em um processo recessivo que levará tempo para ser superado. Nesse clima, é quase impossível para os investidores embarcarem em projetos de longo prazo de que o país tanto precisa, como os de infraestrutura.

Desde o início do ano, as empresas brasileiras emitiram US$ 8 bilhões em títulos no exterior. A maior parte das operações se concentrou em junho, com US$ 5,9 bilhões. Foi uma janela aberta logo após a publicação dos balanços da Petrobras. De lá para cá, porém, as portas se fecharam quase que por completo, reflexo do agravamento da crise política e da discussão aberta sobre impeachment ou renúncia de Dilma. A piora geral se refletiu nos preços dos ativos. O dólar disparou e a bolsa de valores afundou.

Desânimo

Dentro do governo, há quem veja com alívio a dificuldade enfrentada pelas empresas para captar recursos no exterior. Motivo: o excesso de endividamento, que vem sendo motivo de alarde por parte do Fundo Monetário Internacional (FMI). Dados do Banco Central mostram que, de dezembro de 2011 até junho deste ano, os débitos das companhias saltaram de US$ 97,7 bilhões para US$ 121,9 bilhões.

Entre os bancos, o saldo devedor pulou de US$ 138,2 bilhões para US$ 147,5 bilhões. Mas é importante ressaltar que, no caso do sistema financeiro, houve uma forte retração nos débitos neste ano, de quase US$ 9 bilhões, justamente porque faltou espaço para a rolagem dos papéis. Os poucos investidores que aceitaram assumir os riscos exigiram taxas muito elevadas, que tornariam as dívidas pesadas demais. O jeito foi pagá-las e esperar uma melhor oportunidade para as operações.

O problema é que, diante da grave situação na qual o Brasil se encontra, não há como esperar uma rápida abertura dos mercados internacionais às empresas. Com isso, muitos projetos que poderiam ajudar a tirar o país do atoleiro e, sobretudo, conter a disparada do desemprego vão continuar nas gavetas. Isso significará mais pessimismo na economia e desânimo dos eleitores.

Dilma foi dormir mais tranquila no domingo, acreditando que a força das ruas ainda não é suficiente para lhe afastar do poder. Mas, com tantas más notícias ainda por vir, as massas tendem a se agigantar. E não se pode esquecer que a presidente virou, com Lula e o PT, o centro dos protestos. Dilma está muito mais fraca do que ela imagina. Medo de calote » Há muita inquietação entre empresários que exportam para o Brasil. Eles temem que, com a recessão e a onda de quebradeira de empresas, comecem a colecionar calotes. Corpo a corpo » O temor é tamanho que muitos exportadores têm enviado emissários ao Brasil para conversar com a clientela. Querem se antecipar a qualquer imprevisto.

Brasília, 00h10min

Vicente Nunes