A presidente Dilma Rousseff é um poço de contradições. No mesmo dia em que decidiu demitir a diretoria da Petrobras, mandou avisar aos partidos da base aliada que a porteira do governo estava aberta para a festa de nomeações no segundo e no terceiro escalões. Ou seja, demostrou disposição em tentar conter a roubalheira na maior empresa do país, mas escancarou as oportunidades para que políticos sem escrúpulos surrupiem dinheiro público.
Dilma deveria usar o escândalo da Petrobras para fazer uma mudança estrutural nas nomeações para órgãos públicos, sobretudo nas empresas estatais. Não é segredo para ninguém que as companhias são, em grande maioria, mal administradas e seguem a política de superfaturamento de contratos que se tornou rotina na petroleira. O enriquecimento ilícito de dirigentes é pratica comum, sem nenhum constrangimento. Não à toa, os políticos se estapeiam por um cargo na direção das empresas.
A Petrobras é a parte visível da roubalheira. Nas estatais que não ocupam manchetes nos jornais, o desvio de recursos públicos corre solto. E continuará assim diante da decisão de Dilma de liberar os partidos para nomear dirigentes de estatais. Nem os bancos públicos escaparão do rateio. Em vez da capacidade técnica para cargos tão relevantes, prevalecerá o quem indica. O atual governo, por sinal, só ampliou as oportunidades para os políticos manterem firme a corrupção, ao criar várias empresas públicas. Nenhuma delas, por sinal, justificável do ponto de vista econômico.
A expectativa da equipe econômica é de que Dilma acorde rapidamente e recue da decisão de aparelhar as empresas estatais, especialmente as financeiras. No entender de técnicos graduados, de nada adianta fazer a limpeza da Petrobras, nomear executivos conceituados para arrumar a casa, mas o restante do governo estar contaminado pela corrupção. A mudança tem que ser geral. Não se pode deixar focos de desvios de recursos prometendo à sociedade não ser complacente com malfeitos.
“O aparelhamento do governo é inaceitável. Sabemos que a presidente Dilma precisa de apoio político no Congresso Nacional para aprovar projetos importantes para o país. Mas escancarar as portas às nomeações é um equívoco”, diz uma fonte graduada da Esplanada dos Ministérios. “Todo cuidado é pouco, ainda mais por sabermos que outras denúncias de corrupção estão por vir. O escândalo que estamos vendo não se restringirá à Petrobras”, acrescenta.
Longe das páginas policiais
O governo espera tirar grande proveito da indicação do sucessor de Graça Foster na Presidência da Petrobras. A avaliação é de que o desgaste com a renúncia coletiva de dirigentes da companhia será compensado com a escolha de um ótimo executivo, que terá a missão de tirar a petroleira das páginas policiais. Auxiliares da presidente Dilma garantem que ela está disposta a surpreender os mais descrentes de que, finalmente, compreendeu a urgência de limpar a companhia que já foi orgulho nacional e hoje é vista como símbolo da corrupção.
Tensão entre terceirizados
» Os mais de 300 mil funcionários terceirizados da Petrobras estão em alerta. Há o temor generalizado de demissões assim que a futura diretoria da empresa tomar posse. Essa perspectiva já estava se desenhando com Graça Foster no comando da companhia. Agora, quando se fala em readequação do tamanho da petroleira, ninguém acredita que esse pelotão de empregados será necessário.
A sova da inflação
» Apesar da confiança no aval dos investidores para o nome do futuro presidente da Petrobras, o governo está se preparando para tomar mais uma sova amanhã. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará a primeira inflação de Joaquim Levy à frente do Ministério da Fazenda. A projeção do mercado aponta para um índice de 1,24% em janeiro. Se confirmado, será a maior taxa desde fevereiro de 2003, quando cravou 1,57%. Em 12 meses, o IPCA ficará em 7,14%.
Carestia de assustar
» Chama a atenção dos analistas o fato de a inflação anualizada estar em 16%. Trata-se de uma taxa vista somente no início do primeiro mandato de Lula, quando o mercado ainda estava tomado pela desconfiança do que seria um governo PT. A expectativa da equipe econômica é de que, no segundo semestre, se confirmem as previsões do Banco Central, de índices mais compatíveis com as metas.
Aposta sobre juros
» A maior parte dos investidores continua apostando em alta de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) em março. Para o economista-chefe da INVX Partners, Eduardo Velho, esse quadro mudará à medida que forem saindo os dados sobre a atividade.
À espera do banho
» Indicado há mais de um mês para a chefia da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o economista Afonso Arinos Melo de Franco Neto não foi nomeado. Seu nome ainda não passou pelo “banho” da Casa Civil.
Sub já escolhido
» Assim que for nomeado para a Secretaria de Política Econômica, Afonso Arinos indicará como seu adjunto Fernando de Holanda Barbosa Filho, cujo pai já passou pelo órgão.
Brasília, 00h01min