POR ENQUANTO, CAIXA NÃO PRECISA DE CAPITALIZAÇÃO, DIZ EXECUTIVO DO BANCO

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» POR PAULO SILVA PINTO

Um executivo de alto escalão da Caixa Econômica Federal descartou o risco de que a instituição precise de capitalização “neste ano”. Mas a situação do banco é preocupante na avaliação de analistas de mercado, alguns dos quais também preferem não ser identificados. Eles não veem alívio na garantia de que, até dezembro, não haverá necessidade de injeção de recursos pelo Tesouro. A maior parte dos problemas, apontam, pode aparecer em 2017, devido aos riscos de inadimplência de empréstimos que estão sendo renegociados, com o alongamento do prazo de pagamento.

O executivo da instituição negou dificuldades. Disse não poder falar dos números recentes porque o balanço do primeiro trimestre está prestes a ser divulgado, mas destacou que, no fim de 2015, a inadimplência estava em 3,55%, “em linha com a maior parte do mercado”. O índice de Basileia (relação entre o capital e os riscos ponderados) era de 14,4%. O patamar mínimo exigido é 11% — se chega muito perto disso, os acionistas precisam aportar recursos.

No último trimestre do ano passado, porém, o banco apresentou prejuízo operacional de R$ 303 milhões. Embora tenha fechado 2015 com ganho, ele foi 83% menor do que o do período anterior. Segundo o executivo da instituição, a lucratividade caiu porque foi preciso fazer provisões “mais conservadoras do que o normal, diante das dificuldades macroeconômicas do país”. Nesse caso, a instituição decide reservar um montante adicional para cobrir o risco de alta dos calotes.

A situação da Caixa preocupa há três anos, na avaliação de José Luiz Rodrigues, da JL Rodrigues, Carlos Átila e Consultores Associados. “Eles anunciaram que usariam recursos não reclamados da poupança para melhorar o balanço. Quando fazem esse tipo de coisa, é porque a situação é desconfortável”, explicou. Para o economista-chefe da Rio Bravo, Evandro Buccini, “o mercado está sentindo cheiro de problema na Caixa”. Ele espera que, no provável governo de Michel Temer, a transparência e a governança da instituição sejam aprimoradas, assim como de outras estatais.

Desconfiança

O problema é que, no caso da Caixa, todas as ações estão nas mãos do governo federal, o que aumenta o risco de ingerência política. Na tentativa de impulsionar o consumo, a carteira de crédito quase dobrou nos últimos três anos. A atual presidente, Míriam Belchior, foi ministra do Planejamento no primeiro mandato Dilma. Com Temer, o comando do banco deverá ficar com o Gilberto Occhi, do PP, que já foi ministro da Integração Nacional e das Cidades.

Além da desconfiança quanto ao equilíbrio financeiro, há queixas de usuários da Caixa quanto aos serviços, o que indica falta de investimentos. A desempregada Tereza Mendes, de 29 anos, não consegue dar entrada na documentação para receber o pagamento do seguro a que tem direito. Ela teve de se deslocar entre diferentes agências, sem sucesso. “Há uma desorganização generalizada. Sempre me dizem que o sistema está fora do ar”, reclamou. O estudante de arquitetura Robson Nunes, 19 anos, beneficiário do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), tem problemas periódicos para fazer o pagamento da faculdade. “É a terceira vez que venho à agência e ninguém consegue gerar o boleto”, queixou-se.

Brasília, 11h39min

Vicente Nunes