Por causa das eleições, Petrobras adia reajuste do gás de cozinha

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SIMONE KAFRUNI

A Petrobras não divulgou nesta sexta-feira (05/10), como havia prometido, o reajuste do gás de cozinha, que, no Distrito Federal, já custa mais de R$ 100 o botijão. A decisão contraria a política de preços da estatal, que prevê anúncio do preço do Gás Liquifeito de Petróleo (GLP) residencial nas refinarias a cada dia 5 de fechamento de trimestre. O novo valor só será revelado na semana que vem. Para especialistas, o objetivo da postergação é evitar o impacto do aumento nas eleições e o uso político da companhia.

Nos bastidores, circula a informação de que o Grupo Executivo de Mercado e Preços (Gemp) chegou a levar a fórmula de reajuste à diretoria, que teria pedido mais estudos em função da alta volatilidade do câmbio e do petróleo, variáveis que compõem o preço do GLP. Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires, a decisão da companhia foi acertada. “O reajuste é trimestral, mas leva em conta os últimos 12 meses. Tivemos, no período, uma oscilação cambial muito grande, sem justificativa a não ser o quadro eleitoral do país. É difícil precificar isso”, comenta.

Pelos cálculos do economista Carlos Thadeu Filho, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), o preço do gás pode subir entre 15% e 20%, o que terá impacto forte nos índices de inflação e no bolso dos consumidores. O gás está tão caro, que os mais pobres voltaram a cozinhar no fogão a lenha e aumentou a incidência de queimaduras pelo uso de etanol para fazer fogo.

Pires alerta que, se o grupo de preços da Petrobras não tem certeza do reajuste, é melhor não divulgar. “A empresa ficou numa situação delicada. Acho que faz sentido esperar, estudar com mais cuidado, porque, qualquer coisa que divulgue, às vésperas de uma eleição, acirrada e radicalizada como essa, pode prejudicar a empresa”, diz.

Só recentemente a Petrobras resolveu pendências no mercado internacional para recuperar a credibilidade, abalada pela corrupção e pelo uso político. “Há um cuidado para não passar a imagem de que interfere na política brasileira. A Petrobras está tendo cautela. É um sinal de maturidade”, opina Pires.

Para a Associação Brasileira dos Revendedores de GLP (Asmirg-BR), o suspense é desgastante. O presidente da entidade, Alexandre José Borjaili, alerta que, sempre que há aumento de R$ 1 na refinaria, as distribuidoras repassam alta muito maior para as revendas. “Quem está inviabilizando o setor são as distribuidoras. Quando há queda, não repassam para nós”, reclama.

Em janeiro, a Petrobras divulgou o valor de R$ 23,16 para o botijão de 13kg nas refinarias. Em 5 de abril, a estatal baixou para R$ 22,13 e, em 5 de julho, subiu para R$ 23,10. Pelo valor que é comercializado no DF, por exemplo, cerca de R$ 80 ficam pelo caminho.

Brasília, 20h12min

Vicente Nunes