Responsável pelas investigações do assassinato a facadas de duas mulheres em um centro islâmico, na terça-feira (28/03), a Polícia Judiciária (PJ) descartou qualquer ligação do caso com terrorismo. O crime foi cometido pelo afegão Abdul Bashir, que ainda feriu um professor do Centro islâmico Ismaili. Segundo o diretor-geral da PJ, Luís Neves, “estão afastados todos os sinais de que possamos estar na prática de um crime motivado religiosamente, ou a falar de terrorismo”. Ele se recusou, porém, a comentar sobre um telefonema recebido por Bashir minutos antes do ataque às vítimas, alegando ser de “foro íntimo”. Essa ligação tem levantado muitas especulações.
Em coletiva de imprensa, Neves destacou que foi feita uma varredura na vida de Bashir, em conjunto com forças policiais internacionais. “Mapeamos a vida desta pessoa”, frisou o diretor da PJ. Isso inclui tanto o período em que ele vivia no Afeganistão, quanto a passagem pelo campo de refugiados da Grécia e desde a chegada em Portugal, em 2021. “Em tudo o que foi recolhido, não há o mínimo indício, um único sinal, que permita afirmar que estamos perante a radicalização, sobretudo do que é a matriz religiosa”, assinalou.
As investigações mostram ainda, de acordo com o representante da PJ, que todos os hábitos de Bashir em Lisboa são ocidentalizados, ou seja, não têm nada a ver com os preceitos muçulmanos. Os três filhos, de 9, 7 e 4 anos, estão matriculados em uma escola sem qualquer tipo do que pode ser uma educação radicalizada. “Tudo foi e está a ser continuamente analisado, e não há um único indício de terrorismo “, enfatizou Neves.
A visão é de que Bashir — transferido do hospital em que foi operado depois de levar um tiro na perna para ser contido por policiais— pode ter tido um surto psicótico. Mas tudo será analisado pela perícia psiquiátrica. Para o diretor da PJ, um surto psicótico, que pode ocorrer em um determinado momento, quase sempre tem por base a antecipação de um conjunto de fatos que vão se somando. “Normalmente, na base deste tipo de comportamento, estão ações de natureza pessoal do agente do crime que vai somatizando o descontentamento relativamente a esta ou aquela pessoa. Isso terá de ser explorado pela investigação e pelas perícias médico-legais”, frisou.
Neves reconheceu que as respostas da PJ ao assassinato de Mariana Jadaugy, 24 anos, e Farana Sadrudin, 49, terão de ser rápidas, diante da enorme comoção em Portugal e da pressão política sobre o governo. O fato de o crime ter sido cometido por um refugiado recebido por meio de um programa de proteção internacional tem estimulado discursos de ódio e xenófobos por parte de integrantes da extrema-direita.
Está prevista para esta quarta-feira (29/03) buscas e apreensões na casa do assassino. Segundo Luís Neves, já se sabe que Bashir tinha viagem marcada para a Alemanha com os três filhos. Como está sob proteção de Portugal, ele não poderia se deslocar para outras localidades, mas, na avaliação do diretor da PJ, é natural que pessoas nas condições dele tenham preferência por outros países, por afinidades ou mesmo pela presença de familiares ou amigos.