POBRE BRASIL

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O crescimento econômico sustentado é a melhor forma de uma nação proporcionar bem-estar a seus habitantes. O retrato social do Brasil que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem dá a exata dimensão disso. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) se expandiu com a inflação sob controle, os brasileiros puderam tirar proveiro das riquezas acumuladas pelo país. Mas bastou a atividade engasgar para que conquistas importantes começassem a se esvair.

 

Entre 2004 e 2014, a formalização do mercado de trabalho aumentou 26,3%, atingindo 57,7% da população economicamente ativa (PEA). Com carteira assinada, milhões de pessoas puderam ter acesso a crédito para satisfazer necessidades contidas há décadas, como a casa própria. Diante da melhoria de renda dos país, os jovens passaram a dedicar mais tempo aos estudos, qualificando-se para um quadro de maior competição. As desigualdades nos rendimentos entre homens e mulheres, ainda gritantes, diminuíram.

 

Em 2014, especificamente, quando começou o processo de recessão do país, o quadro social começou a se deteriorar. Em vez de crescer, a formalização de trabalhadores diminuiu. Quase 550 mil jovens tiveram que buscar emprego, pois os pais já não conseguiam mais bancar as despesas de casa. Maior conquista do Brasil, difundida mundo afora, a da redução das desigualdades estagnou. Daqui por diante, a tendência é de aumento do fosso que separa ricos e pobres.

 

O quadro captado pelo IBGE só não se tornou mais dramático, devido à rede de proteção social que se criou no Brasil na última década. Como a economia cresceu a passos largos, de forma contínua, o governo pode usar o aumento da arrecadação para corrigir distorções que envergonhavam o país. À medida, porém, que o PIB foi minguando, a capacidade do Estado de fazer políticas sociais também diminuiu.

 

Sem perspectivas de recuperação da atividade pelo menos até o fim de 2016, a tendência é de que o quadro social se agrave de forma considerável. Na avaliação de um conceituado técnico do governo, não há como fazer mágica. Ele reconhece que, diante de uma queda tão brutal do PIB, será inevitável que os mais pobres e os menos qualificados sejam os principais prejudicados. Felizmente, ressalta ele, boa parte dessas pessoas ainda está protegida por programas sociais.

 

“Não fosse a estrutura de combate à pobreza e à miséria criada nos tempos de bonança, já estaríamos vendo as ruas tomadas por protestos”, diz o mesmo técnico. Mas, reforça ele, nem mesmo toda a rede de proteção social impedirá que mais de 3 milhões de pessoas que tinham ascendido socialmente sejam empurradas para as classes D e E até o fim deste ano. “O crescimento econômico é a melhor forma de se fazer distribuição de renda. Infelizmente, veremos tempos difíceis”, ressalta.

 

“Ninguém come PIB”

 

Durante a campanha à reeleição, a presidente Dilma Rousseff rebateu os críticos que a acusava de ter destruído a capacidade do Brasil de crescer com um argumento tosco: “Ninguém come PIB”. Na visão dela, mais importante do que a expansão da atividade, que permite a criação de empregos e a melhoria da renda, era a capacidade do governo de usar o caixa para bancar programas sociais. Ela só esqueceu de dizer que, sem dinheiro, não haveria como cumprir o que prometia.

 

Assim que começou o segundo mandato, Dilma foi obrigada a ser render à realidade para a qual ela havia contribuído — e muito. O derretimento do PIB fez a arrecadação despencar. O rombo nas contas públicas se tornou assustador. A presidente se deu conta de que o Estado não pode tudo, especialmente num país em que a economia vai se retrair quase 7% em apenas dois anos. Só restou a petista cortar programas sociais, ainda que ela insista em dizer que todos continuam intactos.

 

Os problemas sociais vão se agigantar nessa recessão brutal porque a inflação continua alta — acima de 10%. Em países em que não há distorções econômicas, quando o PIB cai, a carestia vai junto. Os Estados Unidos e as nações europeias estão aí para comprovar essa tese. Lá, o problema é a expressiva queda de preços, a deflação. O custo de vida se mantém persistente no Brasil porque Dilma nunca acreditou que o controle inflacionário fosse vital para o bom funcionamento da economia e, sobretudo, que é maior proteção que a população de menor renda pode ter.

 

Que a presidente se prepare. Diante da piora dos indicadores sociais que o IBGE prenuncia, há um risco enorme de a população mais pobre, que ainda apoia o PT, passar a sustentar o processo de impeachment que começou a tramitar na Câmara dos Deputados. Se a situação econômica está ruim hoje, quando 2016 chegar, o quadro se mostrará trágico. No fundo do poço que o país ainda não encontrou estão o desemprego, a quebradeira de empresas e o calote. É esse o ano-novo que Dilma nos reservou.

 

Quem manda no BC?

 

» O mercado financeiro não perdoa. A pergunta que mais intriga dos operadores hoje é saber quem está mandando mais no Banco Central: o presidente da instituição, Alexandre Tombini, ou o diretor de Assuntos Internacionais, Tony Volpon, que votou pela alta de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) na reunião deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom) e desandou a falar sobre a necessidade do arrocho para controlar a inflação.

 

Tudo foi combinado

 

» No BC, pessoas próximas a Tombini dizem que tudo o que se decide no banco tem o aval dele. Asseguram que a posição divergente de Volpon e do diretor de Organização do Sistema Financeiro, Sidnei Corrêa Marques, quanto aos rumos dos juros, foi um acerto entre os integrantes do Copom para indicar ao mercado que o BC não titubeará em elevar a Selic se as expectativas de inflação para 2016 continuarem acima do teto da meta, de 6,5%.

 

Brasília, 08h30min