PLANO DE SAÚDE DEVE SUBIR ATÉ 15% A PARTIR DE MAIO

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POR RODOLFO COSTA E ISABELLA ALVIM

Os consumidores devem preparar o bolso para os gastos com saúde neste ano. Com a disparada dos preços desde 2015, economistas não têm dúvidas de que o reajuste dos convênios individuais e familiares ficará acima dos dois dígitos em 2016. A Tendências Consultoria prevê um aumento de 10,3% e alguns analistas não descartam uma correção acima da autorizada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 2015, de 13,55%, podendo chegar a 15%. O percentual de aumento será definido em maio e passa a vigorar a partir de junho, de acordo com o aniversário do contrato do conveniado.

Márcio Milan, analista de Inflação da Tendências, projeta com base no reajuste incorporando a carestia em 12 meses, já que os parâmetros da ANS são pouco transparentes para operadoras com mais de 30 conveniados. “É difícil pensar que o aumento será abaixo dos dois dígitos. O próprio ajuste de medicamentos corrobora isso”, avalia. Em 1º de abril, o governo federal ajustou os preços dos produtos farmacêuticos em 12,5%.

No caso dos medicamentos, a composição do índice buscou compensar a inflação e o aumento de custos causados pela alta do dólar e aumentos nas despesas com energia elétrica. A lógica do reajuste dos planos de saúde é muito semelhante e não foge à regra. Boa parte dos medicamentos, insumos e equipamentos são comprados em moeda estrangeira e isso influenciará no aumento permitido às operadoras.

Em 2015, o dólar subiu 48,49% em relação ao real. E, por mais que a divisa esteja em desaceleração, esse movimento apenas ameniza a pressão de custos. Como hospitais e clínicas estão sempre incorporando novas tecnologias e repondo equipamentos, uma abrupta desvalorização do real leva empresas e médicos a repassarem parte dos custos para a matriz de preços. Sejam exames, procedimentos cirúrgicos ou consultas.

A ANS informou que o índice de reajuste para os planos individuais do período entre maio de 2016 a abril de 2017 está em apuração, não sendo possível antecipar qualquer informação a respeito. A autarquia reforçou que o aumento autorizado aos planos individuais e familiares é um percentual máximo. “As operadoras não podem aplicar um percentual mais alto do que o autorizado, mas são livres para adotar índices inferiores ao divulgado pela agência, ou mesmo manter suas mensalidades sem reajuste”, ressalta.

Carestia

A Tendências projeta 0,40% para a inflação de junho, prevendo que o aumento dos planos individuais seja aplicado pela ANS nesse período. Se o ajuste for de 10,3%, como prevê Milan, a contribuição dos gastos com plano de saúde na carestia será de 0,33 ponto percentual. Essa parcela, no entanto, pode ser superior, de 0,5 ponto percentual, se o aumento dos contratos for de 15%, calcula o economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes.

“Diante do atual cenário de gastos com saúde no país e da pressão do dólar, não tem como esperar um reajuste pequeno. Se chega aos 15%, não sei. Mas um reajuste desse patamar é algo que não pode ser descartado”, avalia Bentes. “Há mais de uma década os gastos com plano de saúde sobem acima do custo de vida médio. E não foram poucas as vezes em que o aumento aplicado pela ANS veio alinhado com a inflação de convênios nos 12 meses encerrados em abril”, acrescenta.

Independentemente do nível do ajuste, o reajuste será fulminante para o orçamento das famílias, cada vez mais pressionado. “O peso da mensalidade do convênio na cesta de consumo do brasileiro está em ascensão, principalmente por conta do aumento do custo médico-hospitalar em níveis mais elevados do que os da renda da população”, analisa a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).

De acordo com a entidade, entre janeiro e setembro de 2015, a mensalidade média dos contratos ficou avaliada em R$ 231. No ano, o rendimento médio real dos trabalhadores foi de R$ 1.944, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso significa que, em média, um plano de saúde correspondeu por cerca de 12% do salário. E essa proporção tende a aumentar em 2016, com o aprofundamento da recessão, avaliam analistas.

Seja por causa do desemprego ou pela falta de condições financeiras, muitos consumidores estão deixando de ter plano de saúde. Em dezembro, o mercado perdeu cerca de 766 mil beneficiários, a primeira queda registrada pela ANS na comparação com o ano anterior. O aumento de custos foi um problema para o publicitário Raion Almeida, 24 anos, que trocou de plano recentemente.

O convênio, que custava R$ 360, foi reajustado em 11%. Para não ficar sem o benefício, ele negociou outro com a mesma operadora, reduzindo, então, o valor para R$ 270. “Era um gasto muito alto e, como eu pago sozinho e não usava todos os benefícios, achei que ficou mais caro do que eu realmente precisava. Para baratear, meu plano atual não atende em todo o Brasil, só no Centro-Oeste”, conta.

Adaptação

A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) prevê que o cenário macroeconômico deve afetar mais intensamente a saúde privada neste ano, mas espera que o segmento se adapte às condições de mercado, por meio de ações de fidelização dos consumidores, gestão eficiente dos custos e transparência que evidencie os investimentos feitos pelas empresas em serviços de qualidade. Em 2015, de acordo com a entidade, as operadoras tiveram que injetar recursos próprios para cobrir gastos acima das receitas, de R$ 400 milhões.

Vicente Nunes