PIB DO DESASTRE

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O governo já preparou o discurso para a sexta-feira, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre e de todo o ano de 2014. A ordem, no entorno da presidente Dilma Rousseff, é minimizar os números, que devem mostrar queda de até 0,4% no Produto Interno Bruto (PIB) entre outubro e dezembro e variação positiva próxima de zero em 12 meses. Na avaliação do governo, o importante será olhar para a frente, para as medidas de ajustes que estão sendo tomadas e que vão resultar na retomada do crescimento sustentado da economia em 2016.

Os dados do ano passado serão emblemáticos, pois vão coroar o desastre que foi o primeiro mandato de Dilma. Quando tomou posse, a presidente prometeu chegar ao fim dos quatro anos de governo com o PIB avançando próximo de 5%. Ostentando um discurso ufanista, baseado em um marketing poderoso que criou a imagem da gerentona implacável com a corrupção, a petista conseguiu convencer muita gente de que era a pessoa certa para tocar o país. Os níveis de popularidade batiam recorde. Dilma dominava a cena. Não havia espaço para ninguém.

Bastaram, porém, pouco mais de seis meses para que a realidade se impusesse. A gerentona se mostrou um fiasco do ponto de vista administrativo. Cercou-se de um grupo de ministros incompetentes, que conseguiram piorar o que já estava ruim. A presidente implacável com a corrupção virou pó. Sem constrangimento, cercou-se novamente das pessoas e dos partidos que haviam sido pegos desviando, descaradamente, dinheiro público. Preferiu sacrificar a biografia para garantir o apoio necessário que lhe garantiria tempo suficiente na televisão durante a campanha à reeleição.

Em meio à incompetência e aos desmandos que prevaleceram na Esplanada, Dilma decidiu adotar o que chamou de nova matriz econômica. Com o apoio do então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do então secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, adotou a máxima de que um pouco mais de inflação não faria mal ao país. Pelo contrário, impulsionaria o crescimento econômico.

Não satisfeita, a presidente obrigou o Banco Central a reduzir a taxa básica de juros (Selic) ao piso histórico de 7,25% ao ano. Segurou os preços dos combustíveis, reduziu à força as tarifas de energia elétrica e abriu os cofres públicos para engordar o caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cuja missão principal foi favorecer grupos empresariais amigos do Palácio do Planalto. Dilma rasgou todos os manuais da boa governança.

A presidente teve todo o tempo do mundo para tirar o Brasil do caminho do desastre. Mas, por arrogância e visão equivocada, não só manteve o modelo como aprofundou muitas das medidas. Mesmo com a confiança de empresários e consumidores despencando, insistiu nos erros. Preferiu atacar os críticos, gritar contra os pessimistas, a mudar. A cada número ruim da economia, arrumava culpados, em especial, a crise internacional. Durante a campanha à reeleição, já com o país mergulhando na recessão e o desemprego batendo à porta, preferiu recorrer à mentira e a campanhas para destruir quem se pusesse no caminho. Não economizou no marketing.

O resultado colhido por Dilma foi o pior possível. O PIB de 2014 e o resultado já contratado para este ano explicitam o quanto escolhas erradas podem destruir uma economia do porte da brasileira. Agora, ameaçada pelo impeachment e com a popularidade no chão, a presidente tenta se salvar justamente pela economia. Abriu mão de convicções, afastou-se de aliados de primeira hora e se entregou ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, responsável por tocar um doloroso ajuste fiscal.

A nova Dilma ainda não convence a grande maioria da população. Ela sequer tem o apoio de seu partido, o PT. A base aliada no Congresso está esfacelada. Mas, para o bem do país, tomara que, desta vez, a presidente esteja convencida de que a sua cota de erros extrapolou há tempos. Somente o fato de se manter distante do dia a dia da economia será suficiente para que, aos poucos, à medida que os resultados do ajuste forem aparecendo, a confiança volte e o Brasil se livre das amarras do atraso.

Investimentos em queda

» Se as contas dos especialistas estiverem certas, os investimentos produtivos caíram 7% no quatro trimestre de 2014. É possível que também o consumo das famílias venha negativo, se levado em conta que o Natal passado foi o pior em uma década para o varejo.

Crédito escasso » Técnicos do governo admitem que a economia se ressentirá muito neste ano do encolhimento do crédito. Apesar de estarem com o caixa abarrotado, o que tem obrigado o Banco Central a intervir diariamente no mercado para retirar o excesso de dinheiro em circulação, os bancos não se animam a emprestar.

Temor de quebradeira

» O temor maior das instituições financeiras é com o calote de empresas. Com a economia fraca e o risco de falência de grandes empreiteiras pegas no esquema de corrupção da Petrobras, a determinação é manter o pé fundo no freio.

Financiamento às exportações

» A boa notícia no mercado de crédito é que a demanda por financiamentos às exportações voltou a crescer. Com o dólar mais alto, as companhias que vendem para o exterior voltaram a bater às portas dos bancos. Pode ser um alívio em meio ao mar de más notícias.

Brasília, 16h20min

Vicente Nunes