PIB cai 0,1% no segundo trimestre de 2021, segundo o IBGE

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ROSANA HESSEL

A economia não está bombando como diz o ministro da Economia, Paulo Guedes, e a teoria da retomada em V caiu por terra. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta quarta-feira (01/02), o Produto Interno Bruto (PIB), que mede as riquezas acumuladas pelo país, encolheu 0,1% no segundo trimestre na margem, ou seja, na comparação com os três meses anteriores, quando houve alta de 1,2%, na série com ajuste sazonal.

O dado é considerado “estável” pelo IBGE, mas ficou abaixo das expectativas do mercado, que esperavam um desempenho positivo, embora pequeno, em torno de 0,2%. Foi o primeiro dado negativo após três trimestres consecutivos de alta do PIB, puxado pelo recuo da agropecuária e da indústria do lado da demanda e dos investimentos no lado da oferta. O consumo das famílias andou de lado no trimestre.

Na comparação com o mesmo período de 2020, o PIB cresceu 12,4% sobre uma base bastante fraca, que coincide com o auge da recessão da pandemia da covid-19 no ano passado. No primeiro semestre de 2021, o PIB acumula alta de 6,4%, e, no acumulado nos quatro trimestres, terminados em junho de 2021, o PIB cresceu 1,8%, de acordo com o órgão ligado à Economia.

O PIB nominal do segundo trimestre somou R$ 2,1 trilhões, com a taxa de investimento de 18,2% do PIB, e, a taxa de poupança, de 20,9% do PIB, no mesmo período.

Após o resultado do PIB, André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, informou que manteve em 5% a previsão de crescimento do PIB neste ano após o dado de “estabilidade” no segundo trimestre. “Basta que a economia cresça 0,5% por trimestre para atingir tal resultado. Contudo, vale notar, que se observarmos o crescimento no ano propriamente a variação esperada para o final deste ano não é 5%, mas sim próximo de 2%”, escreveu. Para ele, a retomada está ocorrendo na forma de uma raiz quadrada, e com isso mostrar que “depois de certa retomada do mais aguda da crise o PIB iria ficar de lado”. “E parece que este é o caso”, afirmou.

Logo após a divulgação dos dados da queda do PIB brasileiro, o bancão norte-americano Goldman Sachs revisou de 5,4% para 4,9% a previsão de expansão do Brasil neste ano, “presumindo que não há grandes limitações no fornecimento de energia, redução gradual dos atritos na cadeia de fornecimento, reconstrução gradual dos estoques e um quadro ambicioso amplamente controlado no segundo semestre”.

No comunicado, o Goldman Sachs informou que espera uma recuperação econômica nos próximos trimestre, em conjunto com o progresso da vacinação contra a covid-19 no país. No entanto, destacou que esse cenário mais positivo poderá ser mitigado “pelo aumento das taxas de juros, alta inflação, altos níveis de endividamento das famílias, problemas persistentes da cadeia de abastecimento que assolam várias indústrias manufatureiras e aumento do ruído político e da incerteza política”.

Agropecuária e indústria recuam

Para explicar esse dado negativo de 0,1% na margem, o IBGE mostrou que, pela ótica da demanda, a maior queda entre setores foi da agropecuária, que recuou 2,8%. A indústria registrou recuo de 0,2% e os serviços mostraram uma retomada, registrando crescimento de 0,7%.

Entre as atividades produtivas, a indústria da transformação registrou o pior desemprenho, com queda de 2,2%, seguida pelo setor de eletricidade, gás, água, esgoto e gestão de resíduos, que encolheu 0,9%. Apesar de apresentarem crescimento, os segmentos de construção e indústria extrativa, com altas de 2,7% e 5,3%, respectivamente não foram suficientes para evitar o desemprenho negativo da indústria no primeiro

No setor de serviços, houve crescimento em quase todas as áreas. A de informação e comunicação registrou alta de 5,6%; outras atividades de serviços, de 2,1%;, comércio, de 0,5%; atividades imobiliárias, de 0,4%; atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados, de 0,3%; e transporte, armazenagem e correio, de 0,1%. Já administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social ficou estável, com zero de variação na comparação com o trimestre anterior.

Pela ótica da despesa, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede os investimentos, registrou queda de 3,6% na comparação com o primeiro trimestre de 2021. Enquanto isso, o consumo das famílias ficou estagnado em 0% e o consumo do governo cresceu 0,7%. Na mesma base de comparação, no setor externo, as exportações cresceram 9,4%, enquanto as importações, recuaram 0,6%

Avanços sobre base pequena

Na comparação anual, pela ótica da oferta os setores da indústria e de serviços foram os que apresentaram melhores desempenhos sobre uma base bastante deprimida de abril a junho de 2020. A indústria cresceu 17,8% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, puxada pela indústria de transformação, que saltou 25,8% nesse período. Já o setor de serviços apresentou crescimento de 10,8% em relação ao segundo trimestre de 2020, com as atividades de transporte, armazenagem e correio e comércio liderando as altas, 25,3% e de 20,9% respectivamente.

A agropecuária cresceu apenas 1,3%. O resultado, de acordo com o IBGE, é explicado, em grande parte, pelo desempenho positivo de no segundo trimestre da soja, com ata de 9,8%, e do arroz, que avançou 4,1%. Em contrapartida, devido à estiagem e quebra na safra, houve recuos nas estimativas de produção anual das culturas de café (-21,0%), de algodão (-16,6%) e de milho (-11,3%).

No lado da despesa, o consumo das famílias cresceu 10,8% na comparação anual, explicada pelo efeito base segundo o IBGE, “já que é contra o trimestre com os maiores efeitos da pandemia sobre a economia, além dos programas de apoio do governo do aumento do crédito a pessoas físicas”. Por outro lado, o órgão informou que houve aumento das taxas de juros e, mesmo com o aumento das ocupações na economia, a massa salarial, afetada negativamente pelo aumento da inflação, caiu em relação ao segundo trimestre de 2020.

O termômetro dos investimentos, a FBCF, avançou 32,9% no segundo trimestre de 2021 na comparação com o mesmo intervalo do ano passado. Esse desempenho foi impulsionado pelos resultados positivos da produção interna e da importação de bens de capital. O consumo do governo avançou 4,2% na mesma base de comparação.

Vicente Nunes