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Petrobras desaba após demissão de Prates e lidera queda da Bolsa

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

Após o anúncio da demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras, as ações da companhia abriram o pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) em queda, nesta quarta-feira (15/5), e continuam caindo no exterior antes da abertura dos mercados.

 

Nos primeiros minutos de negociação da B3, as ações preferenciais (sem direito a voto, mas prioridade no recebimento de dividendos) da companhia recuavam 1,80% e as ordinárias (com direito a voto), 2,70% E, com menos de uma hora de pregão, as preferenciais desabavam 7,6%, liderando as baixas da B3. As ordinárias, por sua vez, eram negociadas com desvalorização de quase 9%.

 

O Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, abriu o pregão em queda e abaixo do patamar de 128 mil pontos da véspera. Às 10h31, registrava recuo de 0,82%, para 127.455 pontos.

 

Prates despediu-se, ontem à tarde, dos diretores e comunicou ao grupo que seria substituído por Magda Chambriard. Funcionária de carreira da estatal, Chambriard foi diretora da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), e é consultora na área de energia e petróleo. Quando assumir o cargo, a engenheira será a segunda presidente mulher da estatal. A primeira foi Graça Foster, que dirigiu a companhia entre 2012 e 2015, no governo Dilma. 

 

“Esse ruído vem se somar a um conjunto grande de mal estar dos últimos dias onde enumero o placar rachado na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, à emergência climática no Rio Grande do Sul e à persistência de juros elevados nos Estados Unidos. A impressão que se tem é que a decisão de Lula foi no sentido de forçar a Petrobras rumo ao investimento — o que ele tem todo o direito de fazer. Mas, inevitavelmente, o efeito de curto prazo é a perspectiva de que o preço corrente das ações deve ser descontado”, afirmou.  Em Nova York, os American Depositary Receipts (ADRs) da estatal brasileira registravam desvalorização de 8% na pré-abertura do mercado.

 

“O mercado interpreta de forma bem negativa a demissão de Prates por conta de ter acabado de sair do resultado da companhia (com queda de 38% no lucro do primeiro trimestre, para R$ 23,7 bilhões), e de a mudança ter sido uma pressão bem política, com uma ideia de que deveria ter uma condução de investimentos bem maior, principalmente para ajudar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”, afirmou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “Vimos, na semana passada, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, falando que gostaria que o Brasil aumentasse investimentos na indústria naval, por exemplo. Outros ministros falando de aumentar offshore de indústria eólica, offshore.  Esses são projetos que o mercado vê com bastante desconfiança, pois, no fim do governo Dilma, a Petrobras foi a empresa mais endividada do mundo”, destacou. 

 

Na avaliação de Cruz, essa movimentação vai na linha de que Prates não estava seguindo tanto a orientação do governo, então, seria uma mudança para aumentar a intervenção na estatal. “A ideia de que ele não estava fazendo nada também não é tão verdadeira, porque os preços da gasolina estavam congelados há muito tempo. Ele não está seguindo mais a política de paridade de preços internacionais, algo que já impacta a lucratividade da Petrobras, e isso temos visto a queda da rentabilidade da empresa nos últimos trimestres”, destacou. “E os investimentos da empresa estão subindo também. A única coisa é que existia uma diferença entre o que os diretores, de fato entendiam como caminho ideal para investimentos, e o que os políticos achavam. A ideia de Prates era explorar a margem equatorial, que errou na questão ambiental, algo que também é uma visão da Magda Chambriard, em entrevistas recentes. Por isso, vamos ter que acompanhar quais serão as suas posições daqui para frente e ver se ela vai realmente mudar muito a condução da Petrobras adiante ou não”, acrescentou.

 

Cruz lembrou que a Petrobras diminuiu muito o investimento nos últimos anos por conta do alto endividamento herdado durante o governo de Dilma. “Isso necessitou alguns passos atrás para reequilibrar financeiramente. Então, existe espaço para aumentar investimentos. A dúvida é se vão na direção de algo que a Petrobras tem expertise ou se vão em pontos como a indústria naval, que já falharam duas vezes, algo que vai afastar investidores também acompanhar como é que vai ser a da nova diretoria e a distribuição de dividendos. Isso é  algo que vai impactar muitos investidores também”, explicou.

 

Riscos maiores

 

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, avaliou que o cenário da Petrobras fica mais arriscado em relação aos investimentos “que podem não ser de bom retorno pra empresa, como as refinarias e a política de preços, que poderá mais sistematicamente ficar longe da paridade internacional”.

 

“Apesar do discurso de tentar apaziguar a troca, o fato é que ela foi politizada. Só reforça o ponto que passou da hora de a Petrobras ser privatizada. Não vai acontecer, claro, mas corremos o risco de ver os caminhos seguidos no governo Dilma na área do petróleo e gás novamente”, acrescentou Vale.