PÉS E MÃOS ATADOS

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A semana terminou muito pior do que começou. Esperava-se que, com o anúncio do pacote fiscal na última segunda-feira, o governo conseguisse uma trégua para retomar o fôlego e abrir uma janela que fosse no horizonte sombrio que assusta o país. Mas não houve jeito. A presidente Dilma Rousseff, com suas indecisões, equívocos e sua fragilidade política, conseguiu tumultuar ainda mais o ambiente e ampliar a desconfiança que está destruindo a economia. No mercado financeiro, esquentaram as apostas sobre a possível saída da petista do Palácio do Planalto.

O ápice do nervosismo se deu ontem. Os investidores estão convencidos de que Dilma fará mudanças na equipe econômica, com as saídas do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Por mais que o Planalto se empenhe para abafar os rumores que tomaram conta dos mercados, há o temor de que, acuada pelo Congresso, que dá claros sinais de recusa ao novo pacote fiscal, por causa, sobretudo, da proposta de recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), a presidente retome o populismo que prevaleceu no primeiro mandato e que empurrou o Brasil para a beira do precipício.

Para onde se olhasse ontem, o clima beirava o pânico. Não à toa, os contratos de cinco anos do Credit Default Swap (CDS), espécie de seguro que mede o risco de um país dar calote, registrou a marca recorde de 392 pontos, quase dobrando em relação aos 202 pontos observados no fim de 2014. O dólar atingiu a maior cotação em 13 anos, a bolsa de valores despencou e os juros futuros bateram em 15,6% ao ano, indicando que, em algum momento, o Banco Central será obrigado a elevar a taxa básica (Selic). O ponto crucial para essa disparada foi o anúncio da arrecadação de agosto, que mostrou queda real de quase 10% ante o mesmo mês do ano passado.

Ficou claro, na visão dos especialistas, que não há a menor possibilidade de o país fechar 2015 com superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida), mesmo o minguado 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) anunciado por Levy. A perspectiva para a arrecadação é tão ruim que os investidores estão convencidos de que, mais à frente, o governo terá que anunciar novas medidas para reforçar o ajuste de 2016. Olhando para a frente, os cortes de R$ 26 bilhões e o aumento de impostos de quase R$ 40 bilhões parecem insuficientes para o cumprimento da meta de 0,7% do PIB.

A constatação é de que, se Dilma já enfrenta resistências no Congresso, não terá como impor mais sacrifícios à economia, que coleciona inflação alta, renda em queda e desemprego. A insatisfação popular com o governo é latente. E as próximas pesquisas vão mostrar que a popularidade da petista está caminhando para um índice muito perto de zero.

Condições políticas

Há pelo menos duas semanas, os analistas começaram a montar cenários do que pode ser um governo de Michel Temer no caso de impeachment ou de renúncia de Dilma. Há muitas dúvidas sobre o vice-presidente da República, quase um desconhecido para o mercado. Não se sabe se ele realmente terá condições políticas de levar o país até o fim de 2018. O quadro da economia é tão desafiador, que será preciso um aglutinado de forças para resgatar a credibilidade do governo.

Dois nomes, inclusive, já aparecem na lista dos investidores como possíveis candidatos ao ministério da Fazenda de Temer: o senador José Serra, do PSDB; e Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central. Na visão do mercado, se Dilma cair, não há como manter Levy na chefia da equipe econômica, devido ao desgaste que ele acumulou desde que tomou posse.

Os investidores, porém, olham muito além. Independentemente de Dilma ficar ou não no comando do país, eles querem antecipar, para 2017, o debate eleitoral. Na opinião de executivos de bancos, não há, atualmente, um nome forte, que agregue força suficiente para tirar o Brasil da rota do desastre. A situação que a economia se encontra hoje levará anos para ser revertida. Nas contas do Itaú Unibanco, nações que perdem o grau de investimento demoram, em média, sete anos para reconquistar tal chancela.

No caso do Brasil, certamente esse prazo poderá ser maior, dado o estrago provocado por Dilma e sua trupe nos últimos quatro anos. Como diz um investidor atento, que acompanha todos os passos do país, o que se vê hoje “é um bonde carregado de gasolina caminhando em direção à montanha”. A grande dúvida é se haverá tempo para frear o veículo. A condutora está se arrastando, com os pés e as mãos atados.

Brasília, 12h31min

Vicente Nunes