PERTO DO ADEUS

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Ao que tudo indica, confirmada a debandada de hoje do PMDB, o governo de Dilma Rousseff dará seus derradeiros passos. Mesmo entre os mais fiéis aliados da presidente da República, a certeza é de que não há mais como a petista reverter a aprovação do impeachment. Dilma cairá menos por seus erros — que foram muitos, sobretudo na economia — e mais pela onda anti-PT que inundou o país. Não há barganha por parte do Palácio do Planalto e ofertas feitas pelo ex-presidente Lula que consigam se sobrepôr ao que dizem as ruas. O veredito está praticamente dado.

 

Mas que o vice-presidente, Michel Temer, não acredite que, ao subir a rampa do Planalto para se sentar na cadeira mais importante do Brasil, estará se eximindo de todos os pecados que cometeu — vários deles investigados pela Operação Lava-Jato. A maioria da população que exige o fim do mandato de Dilma, por causa da corrupção avassaladora que se instalou no governo, não dará trégua. O vice estará ameaçado a todo momento, inclusive de ser um mero presidente-tampão, cassado poucos meses depois de tomar posse pelo Superior Tribunal Eleitoral (TSE) por irregularidades na chapa que o elegeu.

 

Temer é visto hoje pelos agentes econômicos como o menos pior neste momento para conduzir o Brasil na travessia até 2018. Não há nenhuma garantia de que conseguirá tirar o país do atoleiro. Muito do apoio que está colhendo agora tem mais a ver com a aversão em relação a Dilma e ao PT do que por méritos próprios. Não haverá condescendência com ele, ainda que, de início, viva uma lua de mel com o mercado financeiro. O estrago na economia é tão profundo que reconstruir suas bases demandará muito mais que promessas de um salvador da pátria.

 

Propaganda enganosa

 

Muitas das forças que estão sustentando Temer são tão corruptas quanto o PT de Dilma. É importante deixar isso bem claro. O vice não poderá se render ao fisiologismo, acobertando crimes para alcançar o que tanto almeja. O PMDB é um saco de gatos, está envolvido em todo tipo de falcatrua. Portanto, está longe de ser o que o Brasil precisa para dar um basta em tantos desmandos. O melhor seria que, com Dilma fora do poder, o país pudesse fazer uma nova eleição. A população teria uma oportunidade de explicitar que já não se deixa levar mais por propaganda enganosa.

 

Talvez houvesse tempo de fazer uma limpeza completa se o veredicto da Justiça fosse mais célere. As aterradoras revelações da Lava-Jato indicam que as campanhas de 2010 e de 2014 de Dilma-Temer receberam, ilegalmente, dinheiro desviado da Petrobras. Esperar até 2017 para se ter uma decisão tão importante é um absurdo, pois se corre o risco de entregar nas mãos do Congresso a missão de escolher, de forma indireta, quem comandará o Brasil até 2018. Esse dever é da população, não de um grupo que está mais interessado em tirar proveito do setor público.

 

Da mesma forma que está indo para as ruas pedir o fim de mandato de Dilma, a população deveria cobrar o direito de eleger o substituto da petista. Esse é o caminho mais democrático, pois, se novamente errassem no voto, os eleitores poderiam exigir mudanças. O grosso do eleitorado foi enganado em 2014. A petista mostrou, na sua campanha, um Brasil sem inflação, em crescimento, com emprego de sobra e renda em alta. Tão logo as urnas confirmaram a reeleição, a verdade deu as caras por meio de carestia desenfreada, recessão, demissões em massa e salário em queda.

 

A saída de Dilma, se concretizada, será apenas a ponta do processo de renovação que o Brasil tanto anseia. Os eleitores querem muito mais. Não suportam mais políticos corruptos, ações de compadrio, governo dos amigos e para os amigos. Foi isso o que vimos, atônitos, nos últimos 13 anos. Que ninguém se engane: a paciência chegou ao limite.

 

Brasília, 09h40min