PEGA NA MENTIRA

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A presidente Dilma Rousseff não se cansa de destruir a própria imagem — se é que lhe resta alguma credibilidade. É inacreditável que a chefe do Executivo venha a público e diga que não sabia da gravidade da crise econômica na qual o país está mergulhado, que foi surpreendida pouco antes das eleições do ano passado. Foi ela quem criou todos os problemas que empurraram o Brasil para o buraco. Todas as vezes em que foi alertada sobre o desastre que estava provocando, ao insistir na maluquice da nova matriz econômica, preferia atacar os críticos. Atribuía a eles a responsabilidade de espalharem uma onda de pessimismo que estava minando o país. Dilma contratou a crise e a jogou no colo das empresas e das famílias. Desde que tomou posse, em janeiro de 2011, acreditou que poderia reinventar a roda na economia. Adotou a tese de que um pouco mais de inflação poderia estimular o Produto Interno Bruto (PIB). Obrigou o Banco Central a cortar juros, mesmo com o custo de vida se mantendo acima do teto da meta, de 6,5%. Sancionou todas as manobras fiscais que destruíram as contas públicas. Usou e abusou dos bancos públicos para subsidiar setores que em nada contribuíram para a retomada do crescimento. Todas essas medidas já produziam efeitos negativos na economia em 2014, bem antes do início da campanha eleitoral. Trimestre após trimestre, os números do PIB explicitavam o derretimento da atividade. A desconfiança estava instalada e a recessão que vivemos hoje, contratada. Dilma sabia que não havia como darem certo ações que destruíram a estabilidade do país, conquistada depois de anos de sacrifício. Mesmo ciente de todos os problemas que criou, ela optou pela mentira, arma que usou, sem constrangimento, para destruir os adversários que poderiam lhe apear do poder. A crise que Dilma diz desconhecer vai resultar em pelo menos dois anos de queda do PIB. Ontem, como se fosse a pessoa mais inocente da face da terra, afirmou que 2016 não será um ano “tão maravilhoso”, mas também não será tão ruim como estão falando. Infelizmente, o que ano vem, será, sim, muito ruim. Parte dos especialistas projeta retração econômica de pelo menos 1%. O desemprego passará dos 10% nas seis principais regiões metropolitanas. A renda do trabalho vai cair. A inflação continuará alta e as famílias terão mais dificuldades para pagar dívidas. O dólar poderá chegar a R$ 4. Na avaliação de especialistas, a presidente da República mostra preocupação com a pauta-bomba que pode ser aprovada no Congresso, aumentando os gastos públicos. Mas ela será responsável por eventos-bombas que só contribuirão para afundar o Brasil no atoleiro. Dilma entregará o segundo ano seguido de deficit nas contas públicas. Com isso, o país será rebaixado pelas agências de classificação de risco. A equipe econômica, mais precisamente o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, será pressionada, pois não entregará o que prometeu. Em meio a tudo isso, haverá a correção dos ativos da China e o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos. A petista acredita que, com as recentes turbulências globais, conseguirá emplacar o discurso de que o mundo está jogando contra o Brasil e, com isso, minimizará sua culpa. Mas a verdadeira crise, a que está custando o emprego – 8,4 milhões de pessoas estão sem trabalho no país –, corroendo a renda e comprometendo o futuro, tem nome e sobrenome: Dilma Rousseff. Frustração do BC » Há projeções feitas por economistas de respeito de que, mesmo com o PIB caindo 2% em 2016, a inflação não cairá para 4,5% como prevê o Banco Central. É possível, inclusive, que, nas próximas semanas, piorem as estimativas do custo de vida para o ano que vem. 

Câmbio e commodities » O Brasil não vai se beneficiar tanto da queda mundial dos preços das commodities, como se viu em 2009. Com o dólar disparando, em reais, as mercadorias com cotação internacional (minérios e grãos, por exemplo) continuarão caras por aqui. 

Fôlego de Cunha » Para analistas do mercado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ganhou pontos com o esvaziamento do vice-presidente da República, Michel Temer, que perdeu a articulação política. Um Temer mais distante de Dilma pode ser o início do rompimento entre o PMDB e o governo que tanto Cunha prega.

Brasília, 00h01min

Vicente Nunes