PEC fura-teto é rechaçada por empresários em reunião com Bolsonaro e Guedes

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ROSANA HESSEL

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que está sendo negociada pela equipe econômica em, pelo menos, R$ 35 bilhões com despesas extraordinárias, e assim furar o teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento de despesas à inflação anterior — parece ter dias contados.

Além de receber críticas de especialistas e de integrantes do governo, a PEC fura-teto foi rechaçada por empresários durante uma reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente Jair Bolsonaro, ontem, para discutir sobre a reedição da Medida Provisória do Benefício Emergencial para a Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), ainda sem data definida.

Apesar de, teoricamente, serem beneficiados com a nova PEC, os empresários destacaram que a proposta levaria muito tempo para ser aprovada e o momento é de urgência para esperar uma PEC, que demora.  “Não há a menor chance de esperar uma PEC nova. Está todo mundo em desespero. Somos zumbis empresariais. Não vejo chance dessa PEC prosperar”, destacou Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), em entrevista ao Blog.

Segundo ele, o valor do programa discutido na reunião ficou em torno de R$ 10 bilhões. No ano passado, o governo desembolsou R$ 33,5 bilhões dos R$ 51,5 bilhões previstos no Orçamento de Guerra, conforme dados do Tesouro Nacional.

Na reunião com Bolsonaro, Guedes tentou atrair apoio para a PEC, mas os empresários defenderam um empenho maior do governo para que o PLN 2/2021, projeto de lei apresentado ao Congresso que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano, avance e, assim, a MP do BEm poderá ser publicada. Segundo analistas, o próprio governo acabou criando entrave na LDO para a reedição do benefício para as empresas.

Enquanto isso, o mantra no Ministério da Economia é que o governo aguarda a sanção do Orçamento de 2021, aprovado no último dia 25 e que precisa ser sancionado por Bolsonaro até o próximo dia 22, para reeditar a MP do BEm.

Lambança na LDO

A nova PEC entra, inclusive, na lista das trapalhadas do ministro Paulo Guedes, e de sua equipe. De acordo com um técnico da Câmara, o PLN2/2021, enviado pelo Executivo ao Congresso no último dia 7, tenta corrigir uma lambança de Guedes e sua equipe. Na verdade, a proposta retira uma novidade inserida na LDO de 2021. O Executivo colocou uma exigência para a compensação de despesas temporárias. É justamente esse artigo que está impedindo a publicação da MP do BEm.

“A compensação sempre foi exigida de despesas continuadas. E na LDO deste ano, pela primeira vez, o Executivo colocou uma exigência de compensação de despesas temporárias”, destacou a fonte do Legislativo.

A expectativa de Solmucci é que o governo cumpra a promessa de pautar o PLN 2/2021 até amanhã. “Se der certo, segundo o Guedes eles soltam a MP em um ou dois dias. Ele garantiu que o texto está pronto”, acrescentou.

No entanto, o prazo para o recebimento de emendas ao PLN 2/2021 foi aberto ontem na Comissão Mista do Orçamento (CMO) e deve expirar no dia 19.

Vicente Nunes