Paulo Guedes transformou-se em um engodo para se manter no poder

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Mesmo entre técnicos da equipe econômica, a decepção com o ministro da Economia, Paulo Guedes, é grande. Os mais críticos dizem que Guedes transformou-se em um engodo para se manter no poder. Todo o desapontamento com o ministro vem do Orçamento de 2021, que abriu espaço para gastos de cerca de R$ 125 bilhões fora das regras fiscais.

Por mais que Guedes queira se distanciar desse orçamento paralelo, inaceitável em um país sério — o que não é o caso do Brasil —, está claro para a equipe dele e para analistas de mercado, que tudo foi feito com o aval do ministro. Para os técnicos, Guedes rasgou toda a cartilha liberal que sempre defendeu para abrir espaço a gastos que têm como objetivo reeleger o presidente Jair Bolsonaro.

O Orçamento que saiu do Congresso agride todo o bom senso da gestão fiscal. Por pressão dos técnicos, ainda se tentou corrigir o máximo possível de distorções, mas a política falou mais alto. O governo, com Guedes à frente, preferiu mexer na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para abrir espaço a mais despesas e preservar as emendas de parlamentares de cortes.

Depois que o Orçamento foi aprovado, Guedes, a despeito de todos os acordos políticos que fez com os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, adotou um discurso fiscalista, tentando reverberar a indignação da equipe econômica. Mas foi falando cada vez mais fino depois que se viu ameaçado de perder o cargo.

Lira e Pacheco deixaram claro ao ministro e ao chefe dele, o presidente Jair Bolsonaro, que pagariam caro se o acordo que levou à aprovação do Orçamento fosse rasgado. Bolsonaro, como tem certeza de que o aumento de gastos, sobretudo com obras, poderá lhe favorecer em 2022, quando disputará a reeleição, ficou na moita.

O ministro, por sua vez, assumiu de vez de que lado estava. Afinal, a perspectiva de mais quatro anos de poder é inebriante. Assim, o Guedes durão, defensor de um Estado enxuto, crítico de acordos políticos que avançam sobre os cofres públicos, agora, fala em alguns “exageros” e “desacertos”, mas que, no final das contas, tudo deu certo. Para ele e Bolsonaro, ressalte-se.

Brasília, 15h51min

Vicente Nunes