ROSANA HESSEL
O Brasil e o mundo que estão preocupados com a pandemia da Covid-19, provocada pelo novo coronavírus, assistiram atônitos ao comportamento do presidente Jair Bolsonaro, na manhã deste domingo (29/03), ao caminhar pelas ruas do Distrito Federal, ignorando as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS). O isolamento social para evitar o contágio do vírus é a principal recomendação, porque ainda não existe vacina para a doença.
“Os olhos do mundo estão voltados para o Brasil, e tem muita gente que está em estado de choque vendo o comportamento do presidente”, afirmou a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics (PIIE), de Washington.
Na avaliação da especialista, a realidade da gravidade da pandemia que agora avança com toda a força nos Estados Unidos, o novo epicentro da Covid-19, vai cair no colo do presidente brasileiro dentro das próximas duas semanas. Ela fez referência às projeções de especialistas renomados de que as mortes podem superar a casa dos 100 mil.
Ao comentar sobre o crescimento do número de mortes que ocorrem na maior potência do planeta, e a cena recorrente de corpos se amontoando nos hospitais, a economista alertou que o mesmo poderá acontecer no Brasil. Para ela, quando isso acontecer, Bolsonaro não terá como jogar a culpa nos governadores, que, na avaliação dela, estão agindo corretamente.
“Não vai ter como protegê-lo (Bolsonaro) das acusações de que terá sido o responsável por uma imensa crise de saúde pública que o Brasil vai atravessar”, alertou Monica, durante uma live em que respondeu perguntas de internautas.
Irresponsabilidade
O passeio do chefe do Executivo em Taguatinga, Ceilândia, Sobradinho e no Sudoeste, posando para fotos de populares, além do espanto reabriu um debate muito forte sobre a incapacidade de o capitão reformado continuar no poder, mobilizando vários parlamentares que emitiram notas chamando a atitude de “irresponsável”.
Até Monica, que confessou que achava que não era recomendável a saída do presidente no meio de uma crise como a atual, passou a defender o impeachment. Para ela, o presidente começou a “ameaçar a vida das pessoas”, impedindo que outros membros do governo, como o Ministério da Saúde, fazer o trabalho necessário de salvar vidas.
“O mundo está todo de olho”, avisou a economista.”Bolsonaro é o único líder mundial que hoje se nega redondamente a reconhecer a gravidade da epidemia”, emendou. Publicação do jornal Washington Post, nos Estados Unidos, fala em impeachment do presidente brasileiro.
Vale lembrar que até o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou atrás na negação da epidemia e, hoje, defendeu em cadeia nacional o distanciamento social até o fim de abril.
Macroeconomia em mudança
Monica lembrou que algumas medidas que estão sendo tomadas por vários governos para socorrer os mais vulneráveis, como o auxílio para os trabalhadores autônomos, precisarão ser permanentes depois dessa crise que está mudando conceitos macroeconômicos. Para ela, que levantou a bandeira da renda básica universal no Brasil, as discussões sobre a medidas para a criação de proteção social vinham ocorrendo mesmo antes do novo coronavírus. “Tem paradigmas macroeconômicos que vão mudar depois dessa crise com certeza”, apostou.
A doutora em economia pela London School of Economics (LSE), avaliou que tanto Bolsonaro quanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, estão fazendo muito pouco para contornar a recessão que o país vai mergulhar. No caso do ministro, ela criticou o fato de ele fazer lives com investidores em vez de se dedicar ao desenho de um plano mais estruturado para evitar a depressão econômica na qual o país vai mergulhar.
“Quanto mais tempo o presidente da República perder andando pelas ruas de Brasília a colocando as pessoas em risco, menos tempo ele está dedicando a formular as medidas e a trabalhar com o Congresso Nacional para que saiam as medidas de proteção à população, às empresas e aos empregos, todo o rol de coisas que tem que fazer”, destacou. “Paulo Guedes não está trabalhando. Ele prefere conversar com investidor”, lamentou.
Pelas projeções de Monica, o Brasil está entrando em uma depressão e o tombo no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano deverá ser de 6% e, em 2021, a recuperação não será rápida como alguns economistas torcem. “Estamos falando de um drama econômico de longa duração”, alertou.
Ela acrescentou que ser muito difícil para o país recuperar um crescimento mais robusto após a crise e, por conta disso, medidas como a renda básica universal poderão ajudar no processo de retomada, sem custar muito para os cofres públicos. Mas, para isso acontecer, um novo modelo de tributação precisará ser criado, cobrando impostos de forma mais progressiva. Um dos modelos defendidos por ela, é a tributação sobre grandes fortunas.