PARA SALVAR 2016

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O desemprego e a recessão serão vitais para que a inflação convirja para próximo do centro da meta, de 4,5%, até o fim de 2016, como insiste o Banco Central. Esse quadro não foi explicitado ontem pelo diretor de Política Econômica da instituição, Luiz Awazu Pereira, durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação, mas está no centro do debate dentro do governo.

Ninguém assumirá isso publicamente, para não alimentar o tiroteio da oposição contra o governo. A justificativa é de que 2015 já está perdido. A orientação partida do Palácio do Planalto é para que todos os esforços sejam feitos no sentido de salvar 2016. A presidente Dilma Rousseff não admite a possibilidade de mais um ano de crescimento minguado. Acredita que cedeu demais apostando na promessa do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que o esforço atual trará benefícios à frente.

A recessão e o desemprego também pesarão na decisão do BC sobre os rumos dos juros (Selic). Tudo indica que o Comitê de Política Monetária (Copom) dará mais uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica (Selic), no fim de abril, para 13% ao ano, e encerrará o ciclo de arrocho iniciado em 2013. A única variável que pode levar o Banco Central a sair desse roteiro será o comportamento do dólar.

O BC acredita que, com os cortes no Orçamento da União, que devem ficar próximos de R$ 80 bilhões, a serem anunciados nos próximos dias, os investidores tendem a esfriar os ânimos ante o embate político travado entre o governo e o Congresso em torno do ajuste fiscal. A tesoura afiada de Levy será suficiente para garantir parte importante da meta de superavit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), mesmo que a Câmara e o Senado dificultem a aprovação das medidas provisórias que restringem o acesso a benefícios sociais, como o seguro-desemprego e a pensão por morte.

Ninguém no mercado acredita que a meta fiscal será cumprida integralmente. Mas o governo precisa dar sinais contundentes de que está empenhado em alcançá-la, ainda que os obstáculos impostos pelo Legislativo pareçam intransponíveis. “Desemprego, recessão e arrocho fiscal são a combinação perfeita para derrubar a inflação mais rápido do que um choque de juros”, avalia um técnico da Fazenda.

Entre auxiliares do presidente do BC, Alexandre Tombini, a visão é de que o mercado comprará, mais cedo, mais tarde, o discurso de que a inflação cederá ao longo de 2016 para próximo da meta. A autoridade monetária projeta custo de vida de 4,9% ao fim do ano que vem. Os especialistas veem o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais próximo de 5,5%. “À medida que os indicadores de atividade forem sendo divulgados, os analistas se convencerão de que a inflação não conseguirá resistir em níveis acima de 5%”, diz um dos funcionários do BC.

Juros da desconfiança

O Tesouro Nacional continua sofrendo para financiar a dívida pública. Diante da desconfiança sobre o ajuste fiscal e os rumos da inflação, os investidores têm exigido juros maiores e prazos menores para comprar títulos federais. Ontem, as Letras do Tesouro Nacional (LTNs) com vencimento em abril de 2016 saíram a taxas de 13,67% ao ano, acima dos 13,58% do leilão da semana passada. Mesmo com esses juros expressivos, o órgão só vendeu 72% dos papéis ofertados.

Apostas no fracasso

» A convicção com que o Banco Central está assegurando a convergência da inflação para o centro centra em 2016 levou integrantes do governo a apostarem sobre o que dirá Alexandre Tombini se não cumprir o que prometeu. Todos lembram que o histórico do presidente do BC é muito ruim. Desde que assumiu o posto, em 2011, o IPCA ficou insistentemente acima ou próximo do teto da meta, de 6,5%.

Dólar até R$ 3,20

» Pelas contas do economista-chefe da INVX Partners, Eduardo Velho, acredita que, se o dólar ficar entre R$ 3 e R$ 3,20, o BC não terá muitos problemas para levar a inflação para próximo do centro da meta até o fim do ano que vem. Será preciso, porém, a ajuda do Federal Reserve (Fed), o Banco Central norte-americano, para que a moeda não se assanhe.

Eles pagam a conta » Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o desemprego pegou os grupos mais vulneráveis: jovens, mulheres e trabalhadores menos qualificados, que haviam sido absorvidos pelo setor de serviços.

R$ 21,5 milhões para a FGV

» Está chamando a atenção no governo emenda feita pelo Ministério da Fazenda elevando de R$ 11,5 milhões para R$ 21,5 milhões repasses à Fundação Getulio Vargas (FGV). Ninguém no entorno de Joaquim Levy sabe explicar os motivos para esse salto.

Luto no BC

» Morreu em 18 de março, aos 68 anos, o economista Joubert Furtado, que chefiou a mesa de câmbio do Banco Central num período crucial para a economia brasileira, o da implantação do Plano Real, em 1994. Furtado trabalhou no BC entre 1966 e 1996. Aposentado, vivia no interior de Minas Gerais. Deixou quatro filhos.

Brasília, 10h45min

Vicente Nunes