A pergunta que mais se ouve nas ruas é para onde vai o Brasil. Há um sentimento disseminado de que o país está caminhando para o colapso, e que o governo perdeu a capacidade de reverter o desastre. Muitos se dizem enganados, pois acreditaram que a estabilidade econômica construída a duras penas nos últimos 20 anos tinha chegado para ficar. O que se vê à frente é mais inflação, desemprego e redução dos salários. Não há escapatória.
Num país sério, comprometido com o futuro, o ideal seria aproveitar este momento tão difícil para se promover as reformas estruturais que vêm sendo adiadas há anos. Mas, como sempre foi tradição no Brasil, a opção é por saídas mais fáceis. Prevalece sempre o curtíssimo prazo, recheado de medidas paliativas que apenas maquiam os problemas. Em pouco tempo, eles voltam muito maiores, exigindo mais sacrifícios da sociedade.
Nesse roteiro de filme de terror, é inacreditável ouvir do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que a ressurreição da CPMF tem como objetivo financiar o rombo da Previdência. Ele mentiu descaradamente. O tributo, se aprovado, entrará no caixa único do Tesouro Nacional. E o rombo do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) só aumentará. Assim, quando estiverem se esgotando os quatro anos previstos para a vigência da CPMF, o governo novamente alegará que precisa manter o imposto porque a situação da Previdência continua preocupante.
Esperava-se de Levy o mínimo de coerência. Por diversas vezes, o ministro alertou sobre a necessidade de se instituir idade mínima para a aposentadoria e de se restringir as concessões de pensões e auxílio-doença, cujas fraudes sugam bilhões dos cofres públicos. Ele disse acreditar que esse era o caminho para se reformar a Previdência e torná-la mais saudável e sustentável para as gerações futuras, que correm o risco de ficar à deriva justamente na velhice, quando mais se precisa de uma renda.
O ministro também não levou adiante a proposta de uma reforma tributária consistente. Seguindo os antecessores, optou por meter a mão no bolso dos contribuintes, como se o dinheiro advindo do trabalho crescesse como capim. Levy, que vive ameaçando deixar o governo a cada derrota que sofre, dá a impressão de que está ficando cada vez mais parecido com a presidente Dilma Rousseff, quando o esperado era que Dilma se tornasse um Levy de saias – sim, aquele ministro que chegou com força e disposto a tirar o país do atoleiro para o qual a chefe havia empurrado.
Casa incendiada
Infelizmente, não será com este governo nem com o atual Congresso que o país assistirá às reformas de que tanto precisa. A razão é uma só: não há lideranças capazes de encampar medidas tão impopulares, que podem custar votos, mas a médio e longo prazos, permitirão o crescimento sustentado da economia, com ampliação do emprego e da renda.
Na avaliação do economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, as reformas são inevitáveis e terão de ser feitas a qualquer custo. Sem elas, o Brasil estará condenado ao atraso. Ele ressalta, porém, que, no momento atual, depois de todos os estragos feitos na economia, não restava outra alternativa ao governo a não ser anunciar um pacote com alcance limitado, mas que dará algum alívio se realmente colocado em prática.
Ele faz uma analogia sobre o momento atual: “Não adianta pensar em reformas quando a casa está pegando fogo. Tem que apagar o incêndio antes que tudo seja perdido”. A boa notícia, no entender de Thadeu, é que o governo começa a fazer um diagnóstico correto da situação, ao se dar conta de que o Brasil só tem salvação se fizer um ajuste fiscal consistente, sem manobras. “Pelo menos, não estão pedalando o diagnóstico”, afirma.
O economista, que chefia o Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC), diz que o Brasil se tornou dependente das agências de classificação de risco. Foi como se colocasse uma corda no pescoço. Agora, para evitar um segundo rebaixamento, resolveu correr contra o tempo. O problema é que, sem o Congresso, não dará muitos passos à frente.
“Antes, o Brasil ficava dependente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Descumpria contratos, mas acabava recebendo ajuda. Atualmente, a dependência é das agências de risco. E elas não estão dispostas a ser complacentes”, explica Thadeu.
Daqui por diante, portanto, o Brasil terá de conviver com o fantasma do rebaixamento. À população, restará torcer por uma luz no fim do túnel antes que o filme de terror chegue ao fim, inclusive com os mocinhos mortos.
Três anos em três meses
A tensão é grande no governo. A visão é de que o fim de linha ficou próximo demais. Os três anos que faltam para a gestão Dilma dependem dos próximos três meses, nos quais se espera a aprovação do pacote fiscal de quase R$ 65 bilhões.
Inflação candanga
A inflação do Distrito Federal dará um salto expressivo nos próximos meses. Com todos os reajustes anunciados pelo governo local, é possível que o índice mensal volte para a casa de 1%. O comércio está em pânico.
Brasília, 00h10min