Para técnicos do BC, Bolsonaro “viaja” quando fala em moeda única

Publicado em Economia

Técnicos do Banco Central veem como “viagem” a proposta do presidente Jair Bolsonaro de criar uma moeda única no Mercosul. O assunto, lançado em viagem do presidente à Argentina, é visto dentro do BC como fora de propósito.

 

A autoridade monetária, por sinal, soltou nota oficial informando que não há nenhum estudo formal sobre moeda única. Do Japão, onde participa de reunião do G-20, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ordenou um desmentido formal tão logo foi comunicado sobre a proposta difundida por Bolsonaro.

 

Na avaliação de técnicos do BC, em vez de falar sobre o que não sabe, criando ruídos desnecessários, o presidente deveria trabalhar por medidas concretas que ajudem a estimular a retomada do crescimento econômico. Diante da desconfiança dos agentes econômicos, as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) desabam.

 

No atoleiro

 

Em meio aos debates sobre a viabilidade de uma moeda única no Mercosul neste momento e às chacotas nas redes sociais, o Bradesco, segundo banco privado do país, anunciou a revisão de sua estimativa para o PIB neste ano, agora, de crescimento de 0,8%. Isso mesmo, projeção de aumento do PIB menor do que nos dois anos de governo Temer.

 

O presidente, reconhecem tanto técnicos do BC quanto do Ministério da Economia, está perdendo a oportunidade de criar um ambiente de confiança no país, em que empresários e consumidores se sintam confortáveis para investir no aumento da produção e da demanda. Com as bobagens que ele fala, só empurra a atividade ladeira abaixo.

 

Esse negócio de que a reforma da Previdência, se aprovada pelo Congresso, vai levar, sozinha, o Brasil para o paraíso é conversa fiada. O país tem outros grandes problemas estruturais, mas Bolsonaro não tem maturidade para discuti-los e entendê-los. Ou seja, a economia continuará patinando.

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem sua parcela de culpa nesse comportamento inadequado de Bolsonaro, pois o incentiva a vender gato por lebre. Todos sabem que, por um longo período, Guedes defendeu uma moeda única para o Mercosul. Ele tem todo o direito de fazê-lo. Mas não neste momento, em que a desconfiança na capacidade do governo de tirar o país do atoleiro é cada vez menor.

 

Brasília,   11h08min