“Se existe uma demanda democrática, legítima da sociedade, para darmos aumento de salários para os funcionários públicos, vamos ter que mostrar que gasto será reduzido para esse aumento de despesa. É uma escolha vai ter que ser feita”, afirmou Sachsida, nesta quarta-feira (17/11), durante a apresentação das novas estimativas da pasta para a economia. Assim como o ministro da Economia, Paulo Guedes, ele minimizou a preocupação dos agentes financeiros em relação à deterioração das perspectivas devido ao aumento dos riscos fiscais.
O governo está totalmente dependente das pedaladas de dívidas judiciais e mudança na regras fiscais com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, que altera o indexador do teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento de despesas à inflação do ano anterior — e impõe um subteto de R$ 39 bilhões para o pagamento de precatórios, empurrando quase R$ 50 bilhões dos R$ 89,1 bilhões que estão programados para o Orçamento de 2022. “Eu sei que está tendo muito ruído”, afirmou Sachisida. Para ele, a aprovação da PEC dos Precatórios vai fazer “o nível dos ruídos diminuir”.
Com essas mudanças, a projeção inicial do governo é de uma folga de R$ 91,6 bilhões para o governo gastar a mais, pelos cálculos da equipe econômica. Desse montante, praticamente metade, R$ 50 bilhões, é que vai ser destinada para a ampliação do novo Bolsa Família, o Auxílio Brasil, de R$ 400 para 17 milhões de famílias. Analistas em contas públicas defendem que não é preciso dar calote nos precatórios para ampliar o novo programa social. Basta o governo sinalizar corte de despesas e evitar adotar medidas eleitoreiras para agradar o Centrão, que está de olho na distribuição dos recursos das polêmicas emendas do relator-geral. O reajuste do funcionalismo, inclusive, vai disputar espaço com essas emendas. Algumas estimativas indicam que um aumento em torno de 10%, a fim de repor a inflação deste ano, poderia custar mais de R$ 30 bilhões,
No novo relatório, a SPE reduziu as estimativas de crescimento do PIB, mas elevou as de inflação e passou a estimar alta de 9,7% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, que deverá ser utilizado para a correção do limite do teto de gastos se a PEC for aprovada. A nova estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que reajusta o salário mínimo é de 10,04%. Esses dados servem de parâmetro as projeções do Orçamento de 2022. Uma mensagem corretiva deverá ser enviada ao Congresso “no início de dezembro”, segundo o secretário. No Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), o governo previa altas de 5,9%, no IPCA, e 6,2% no INPC, deste ano.
Sachsida, no entanto, evitou fazer uma estimativa para a nova folga do teto de gastos com a projeção maior de inflação por conta da PEC dos Precatórios. “O dado vai ser divulgado semana que vem junto com o relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas”, disse ele, em referência ao documento que costuma ser enviado a cada dos meses ao Congresso sobre o desemprenho dos gastos públicos.
“Negacionismo”
Durante a entrevista virtual, Sachsida voltou a criticar os economistas que afirmam que existe “negacionismo” das projeções da equipe econômica’. Ele afirmou que o governo está conseguindo implementar uma agenda reformista e pró-mercado. “Existe um debate ideológico muito forte dizendo que tudo o que o governo esta errado. Ouvi muitos colegas falando do negacionismo do governo na economia. Essas pessoas estão querendo lacrar”, afirmou, em referência aos que dizem que o atual governo vai entregar um país pior do que recebeu.
“Melhor do que ficar nessa discussão é fazer um convite honesto para o debate. Nós implementamos uma agenda de consolidação fiscal e pró-mercado robusta. E isso tem que ser mantido. Isso é um legado”, disse o secretário citando a reforma da Previdência, o marco regulatório do saneamento e o leilão do 5G como exemplos considerados por ele de medidas bem-sucedidas. “Dizer que o governo vai entregar um país pior do que recebeu só fortalece as pessoas que querem acabar com essas políticas. Agora, será que não fizemos nada certo?”, emendou.