Para Planalto, BC tem que dar mais um corte nos juros

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Nas movimentações dentro do governo para enaltecer os dois anos de Michel Temer no comando do país, um assunto ganhou destaque: o corte da taxa básica de juros (Selic) que deve ser anunciado nesta quarta-feira (16/05) pelo Banco Central. O Palácio do Planalto está convencido de que ainda há espaço para uma redução de mais 0,25 ponto percentual, para 6,25% ao ano, como já ressaltou o presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn.

Assessores de Temer dizem que, a despeito da arrancada do dólar, que caminha firme para os R$ 3,70, o impacto na inflação será bem pequeno, pois não há espaço para repasses de custos para os preços. A economia está crescendo, mas numa velocidade aquém da esperada. Indústria e varejo, portanto, vão preferir segurar reajustes para manter as vendas. “Neste momento, é melhor sacrificar um pouco as margens de lucro do que ficar com as mercadorias encalhadas”, ressalta um dos auxiliares palacianos.

Outro argumento usado pelo governo é o de que o BC assumiu um discurso claro em favor de mais uma queda dos juros, tanto por meio de documentos quanto pelas falas de seus dirigentes. Mudar essa postura agora pode criar ainda mais ruídos no mercado. Não se pode esquecer que a credibilidade da atual diretoria do Banco Central foi construída na base de um diálogo transparente e firme com os agentes econômicos. Ilan fez questão de sustentar uma boa comunicação, fundamental para o controle das expectativas. “Não bastasse tudo isso, a inflação acumulada em 12 meses está abaixo do piso da meta, de 3%”, acrescenta outro técnico do governo.

Divergências

Os críticos do BC no mercado afirmam, contudo, que, como toda a conjuntura mudou – o mundo ficou mais confuso e o dólar disparou, além de ter aumentado a incerteza em relação às eleições no país -, não há porque a autoridade monetária se manter imutável. O papel do BC, dizem esses críticos, é de estar à frente das tendências, não atrás, como se vê agora. “Quem acompanha o mercado futuro de juros sabe o quanto os investidores ficaram se rumo. De março para cá, os contratos com vencimento em janeiro de 2025 saltaram de 9,42% para 10,10%, depois de bater em 10,27% ao ano”, afirma um analista.

Para ele, é melhor o BC ter cautela. “Mudar de opinião faz parte do jogo. Não é um corte de 0,25 ponto que vai alterar o rumo da história. Ao não mexer na Selic, o BC dará um claro sinal de responsabilidade e o mercado tenderá a aplaudir a decisão”, emenda um operador. Há muito tempo uma decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) não provoca tanta comoção entre os especialistas.

Brasília, 19h21min

Vicente Nunes