Dia sim, outro também, o presidente Jair Bolsonaro faz questão de dizer que as Forças Armadas estão do seu lado, inclusive para aventuras golpistas. Há, como se sabe, muito exagero nas palavras do Bolsonaro, mas há um ponto que une, com força, o presidente e os fardados: a obsessão pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quando o petista entra na pauta, os laços entre o presidente e as Forças Armadas se estreitam.
“Bolsonaro é tosco, mas ele é melhor do que Lula”, diz um militar de alta patente, ressaltando que, para os colegas de farda, é inconcebível que o ex-presidente tenha voltado ao ringue político. Na visão desse mesmo militar, o “Supremo Tribunal Federal cometeu um grande erro ao reverter as condenações de Lula”, tornando-o elegível em 2022.
Um outro militar ressalta que o STF poderia “até ter feito a loucura” de “livrar a barra” de Lula, mas não restabelecer os direitos políticos dele. “Uma coisa é ver Lula fora da cadeia sem poder concorrer a cargos públicos, outra, é vê-lo com chances de chegar de novo à Presidência da República”, afirma. “Não queremos, e não é bom ter Lula de volta ao comando do país depois de tudo o que ele e PT fizeram”, emenda.
Para os fardados, ao anular os processos contra Lula e ainda desacreditar o ex-juiz Sergio Moro, o STF tentou corrigir o que fez quando tirou Lula das eleições de 2018. “Naquela época, o STF se acovardou. Agora, mete os pés pelas mãos ao desconsiderar tudo o que havia sido pacificado quatro anos antes”, enfatiza esse segundo fardado.
Os militares reconhecem que “Bolsonaro tem muitos problemas”, como ser grosseiro, mal educado, preconceituoso, “contudo, seria um retrocesso” vê-lo perder as eleições do ano que vem para o petista. “Por isso, entre ele e Lula, ficamos com ele”, frisa um terceiro fardado. Os militares, inclusive, acreditam que Bolsonaro voltará a tirar proveito “da revolta da população com tudo o que aconteceu nos governos do PT”.
Indagados pelo Blog se, no caso de vitória em 2022, Lula tomará posse, o silêncio é retumbante. Mas, depois de alguns segundos, os três militares consultados garantem que sim. Para eles, deve prevalecer a vontade da maioria da população. Ou seja, na visão deles, um golpe militar está descartado.
Brasília, 17h45min