Para Funchal, há espaço para Bolsa Família de R$ 300 se houver solução para os precatórios

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ROSANA HESSEL

O secretário especial do Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Bruno Funchal,  acredita que é possível criar um novo Bolsa Família de R$ 300, mas condicionou isso à uma solução para os R$ 89,1 bilhões de despesas com precatórios — dívidas judiciais –, que foram incluídos integralmente no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), enviado ao Congresso no último dia 31. E essa solução, segundo ele, precisará ocorrer via um entendimento entre o Legislativo e o Judiciário, mas ela precisará ficar dentro da regra do teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento de despesa à inflação do ano anterior.

“Um Bolsa Família de R$ 300 vai depender da solução final dos precatórios, mas acredito que seja possível”, afirmou Funchal, nesta sexta-feira (03/09), durante evento virtual de uma plataforma de investidores do mercado financeiro. O governo vinha tentando evitar argumentos em defesa da Proposta da Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios para a ampliação do Bolsa Família devido à polêmica que o tema vinha causando. “Para ser um pouco maior, o programa precisa ter espaço no Orçamento. Aí vai ter que haver uma definição de prioridades”, emendou.

Funchal voltou a defender a polêmica PEC 23/2021, que trata do parcelamento em 10 anos dos precatórios, e que foi enviada pelo Executivo ao Congresso no início de agosto e vem sendo bastante criticada por especialistas por institucionalizar o calote de sentenças judiciais que não cabem mais recurso.  Não à toa, foi denominada de PEC das pedaladas tanto por especialistas quanto por parlamentares. Ele ainda disse que a solução que está sendo costurada pelo Legislativo e o Judiciário, via o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), criando uma espécie de subteto para os precatórios sem mexer na Constituição são parecidas. “Tanto a nossa proposta original quanto a que está em discussão via CNJ vão no caminho de não romper o teto, mas de compatibilizar a despesa dentro com o teto”, afirmou.

O secretário especial ainda reforçou a defesa de um modelo para convergir as contas dos credores dos precatórios com as dívidas que eles possuem junto à União. Além disso, ele defendeu aumentar a transparência com a criação de um painel do Tesouro Nacional para o acompanhamento desse tipo de dívida.

Teto de gastos

Funchal descartou qualquer medida para tirar o gasto com precatório da regra do teto. “A gente aqui no governo sabe da importância do teto de gastos para ancorar a expectativa e trazer credibilidade. Não estamos trabalhando com essa hipótese de retirar (precatórios) do teto de gastos”,  frisou.

Segundo ele, o governo quer uma regra que harmonize essa despesa com precatórios ao teto de gastos, que é a “regra fiscal mais importante” do governo, pois foi responsável pelo processo de consolidação fiscal e de recuperação da credibilidade do país após a perda do grau de investimento, em 2015.

De acordo com Funchal, assim que forem definidas as soluções para os precatórios, o governo poderá incluir na mensagem de atualização do PLOA de 2022, que possui dados desatualizados e precisará ser corrigido até novembro. Ele descarta atrasos na tramitação da peça orçamentária, como ocorreu no ano passado.

O secretário voltou a admitir os riscos inflacionários que podem comprimir ainda mais o espaço destinado às despesas não obrigatórias no ano que vem, de R$ 98,6 bilhões. As estimativas do governo para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) que consta no PLOA “Cada ponto percentual a mais na inflação representa uma redução de R$ 8 bilhões a menos de despesa discricionária. Cada 1% a mais no INPC comprime as discricionárias. Mas no fim do dia, para o programa (Bolsa Família) ser um pouco maior, será preciso espaço no Orçamento”, frisou.

Em relação à questão eleitoral, o secretário especial ainda acredita que os candidatos não deverão ter um discurso contrário à manutenção do teto de gastos, porque, segundo ele, a norma é fundamental para controlar a inflação e ajudar a gerar emprego e renda para a população. “A conversa sobre o teto mostra que está cada vez mais clara a importância dele para a economia. Acho que nenhum candidato vai querer desorganizar fiscalmente. Vimos isso em 2015 e em 2016, que foi catastrófico”, disse. “A partir desse processo de reorganização fiscal, o reflexo na atividade econômica é fundamental”, emendou.

Prioridades

De acordo com o secretário, existem duas prioridades hoje do governo: a questão dos precatórios e criar espaço para o Auxílio Brasil, programa que vai substituir o Bolsa Família. “Temos o desafio que é lidar com as expectativas e lidar com os principais problemas de hoje, que são os precatórios e o Auxílio Brasil. Em paralelo, a reforma do Imposto de Renda, que acreditamos que vai caminhar no Senado, porque há consenso”, disse.

Em relação à reforma administrativa, que continua travada, Funchal admitiu que ela está mais “em terceiro plano”. “Mas ainda vejo que há um espaço razoável para evoluir nesse tema no Congresso”, afirmou.

Vicente Nunes