Para FMI, economias emergentes enfrentam uma tempestade perfeita

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ROSANA HESSEL

A disseminação global da Covid-19, pandemia provocada pelo novo coronavírus, vai exigir a imposição de medidas duras e prolongadas, caso resultem em uma desaceleração mais severa e de maior duração, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que está prevendo uma desaceleração de 3% no Produto Interno Bruto (PIB) global neste ano. Esse é o pior desempenho desde a Grande Depressão. Nesse cenário nada animador que está afetando os mercados de forma generalizada, os países emergentes enfrentam “uma tempestade perfeita” uma vez que possuem menos instrumentos para enfrentar a crise que está se formando, na avaliação do Fundo.

Para os técnicos do FMI, economias emergentes terão menos instrumentos do que os países desenvolvidos para enfrentar a crise atual, e, por conta disso, enfrentarão maiores volatilidades. “Uma combinação sem precedentes de choques externos (pandemia de Covid-19, queda no preço do petróleo, aumento da aversão ao risco global e perspectiva de recessão global) levou a uma liquidação ampla nos mercados emergentes e fronteiriços”, destacou Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado, nesta terça-feira (14/04), pelo FMI, logo após a apresentação do Panorama Econômico Global. “As moedas de outros mercados emergentes foram relativamente menos afetadas, provavelmente devido a intervenções cambiais mais fortes, além de menores vulnerabilidades externas. Os fluxos de portfólio para mercados emergentes sofreram uma reversão muito acentuada”, acrescentou o texto.

Levantamento do FMI destacou que as saídas de portfólio de investidores estrangeiros dos mercados emergentes atingiram um nível recorde, superior a US $ 100 bilhões desde 21 de janeiro, “e o mais alto de todos os tempos em relação ao PIB agregado no primeiro trimestre de 2020”.

De acordo com o Fundo, os preços das ações dos mercados emergentes registram queda em torno de 20%, líquidos, desde meados de janeiro, apesar da recuperação mais recente. Além disso, as moedas das economias produtoras de commodities,  como Brasil, Colômbia, México, Rússia e África do Sul, caíram mais de 20% frente ao dólar dos Estados Unidos no primeiro trimestre de 2020.

Pelas novas estimativas do Fundo, o PIB do Brasil deverá registrar retração de 5,3% enquanto a América Latina deverá registrar contração de 5,2%.

Pacote de US$ 6 tri

O Fundo reforçou que os bancos centrais estão agindo de maneira coordenada. Além das medidas de cortes de juros e a injeção de liquidez no mercado, fornecendo liquidez adicional ao sistema financeiro, as autoridades monetárias também lançaram uma série de novos programas de base ampla, incluindo a compra de ativos mais arriscados, como títulos corporativos. “Até o momento, os bancos centrais anunciaram planos de expandir seus balanços patrimoniais  (inclusive por meio de empréstimos e compras de ativos) em mais de US $ 6 trilhões. Eles também indicaram disposição para fazer mais, se as condições o justificarem”, informou o relatório.

Tobias Adrian, conselheiro financeiro do FMI, reconheceu que o sentimento ainda é de incerteza e reforçou que os bancos centrais permanecerão cruciais para salvaguardar a estabilidade dos mercados financeiros globais e manter o fluxo de crédito para a economia. “Essa crise não é simplesmente sobre liquidez. Trata-se, principalmente, de solvência — em um momento em que grandes segmentos da economia global pararam completamente. Como resultado, a política fiscal tem um papel vital a desempenhar”, alertou.

Vicente Nunes