Para BNP, pressões inflacionárias devem persistir ao longo de 2021

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ROSANA HESSEL

O aumento de 52% na bandeira tarifária da conta de luz, aprovado pela diretoria colegiada da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta terça-feira (29/06), não vai alterar as projeções de inflação do BNP Paribas para este ano, de 6,5%, de acordo com Gustavo Arruda, economista-chefe do banco francês no Brasil, que fez vários alertas sobre as pressões inflacionárias que ainda devem persistir ao longo do ano.

Com o reajuste valendo a partir de julho, a bandeira vermelha 2, o patamar mais elevado, passará de R$ 6,24 para R$ 9,49. “Nas nossas projeções de inflação, tínhamos incluído um reajuste na bandeira vermelha 2 para R$ 10, e, portanto, não será necessário revermos a atual estimativa. O novo valor está muito próximos do que tínhamos assumido e o ajuste fica desprezível no IPCA”, disse Arruda, durante a apresentação a jornalistas das novas projeções da instituição, que prevê expansão de 5,5% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, e de 3% no do ano que vem.

Na avaliação do economista, ainda há diversos riscos que podem pressionar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) além da crise hídrica, como os fretes internacionais –que estão elevados e podem afetar a dinâmica –, a falta de insumos que pode afetar ainda mais produção global, e até mesmo uma valorização cambial, embora as novas estimativas do BNP indicarem um dólar abaixo de R$ 5 no fim deste ano e no próximo. Ele ainda destacou que a inflação de serviços ainda está baixa e ainda há incertezas sobre a intensidade do aumento dos preços desse segmento quando o processo de vacinação permitir uma retomada mais segura das atividades. “No segundo semestre ainda não temos muita certeza como esses riscos vão evoluir”, afirmou.

O consenso do mercado é que o teto da meta de inflação deste ano, de 5,25%, será descumprido e, para o ano que vem, o compromisso do Banco Central, de conseguir manter o custo de vida no centro da meta de 2022, de 3,50%, também poderá não ser cumprido. Pelas projeções do BNP, por exemplo, o IPCA deverá encerrar 2022 em 4%, abaixo do teto de 5%, e com a taxa básica de juros (Selic) chegando a 7,5% ao ano.

Ajuda externa

O cenário internacional mais favorável é um dos fatores para a melhora das previsões do BNP para o PIB brasileiro em 2021, porque boa parte do crescimento de 5,5% deste ano tem a ver com o crescimento global e as exportações de commodities.  Em março, a previsão da instituição de expansão do PIB do Brasil era de 2,5%. “Se o mundo crescer bastante por conta das políticas de estímulo fiscal dos países desenvolvidos, que devem aceitar conviver com um pouco de inflação, o canal internacional vai continuar sendo pujante para a economia brasileira”, afirmou Arruda.

O BNP revisou de 6,1% para 6,4% a projeção de expansão do PIB global, mantendo em 6,9% a estimativa para o avanço do PIB dos Estados Unidos, mas reduziu de 9,2% para 8,7% a expectativa de crescimento do PIB da China.

Apesar de reconhecer que, devido à pandemia ainda há vários riscos para a retomada da economia brasileira, inclusive, uma desaceleração maior da China, também precisa ser incluída no radar, mas o maior deles é a inflação. “Sem dúvida, um ajuste no tamanho da acomodação do crescimento chinês será fundamental para o desempenho do Brasil. Mas eles não estão conseguindo acomodar os preços no minério de ferro e conter a especulação do mercado. O processo inflacionário está vindo pela demanda, que continua muito forte. E, dito isso, a China busca estabilizar o crescimento para desacelerar os preços das commodities. E isso é um risco para o Brasil qual vai ser o tamanho da aceleração chinesa”, afirmou.

Arruda considera que os riscos fiscais são menores neste ano devido à ajuda da inflação que, por conta do deflator, aumentou as estimativas do PIB nominal e, com isso, reduziu as previsões para a dívida pública bruta, que atualmente está mais perto de 80% do que de 100% do PIB. “O ponto de partida é uma dívida menor e, quando se faz a análise sobre a sustentabilidade do teto de gastos, parece que ele se sustenta por mais algum tempo, pelo menos até 2024”, afirmou. “Não acredito que o mercado esteja ignorando o risco fiscal, mas aguarda alguma informação adicional, porque, se não fosse isso, o dólar já estaria em R$ 4,50 e não em R$ 4,90”, afirmou.

Devido às eleições no ano que vem, Arruda ainda admitiu que deverá haver bastante volatilidade no mercado, principalmente, no dólar. Pelas novas projeções do banco francês, a divisa norte-americana deverá encerrar 2021 cotada a R$ 4,75, e, no ano que vem, em R$ 4,60. “Isso não quer dizer que não vai haver volatilidade dado o ambiente de incertezas”, disse o economista, reconhecendo os riscos de novos choques de oferta pressionam ainda mais a inflação enquanto a atividade demorar mais tempo do que o esperado para se recuperar. “Se isso acontecer, será o pior dos mundos”, complementou.

Vicente Nunes